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Febre do Oropouche: entenda origem, sintomas e tratamento

Portal A TARDE conversou com infectologista, que trouxe um panorama da doença

Publicado sábado, 27 de abril de 2024 às 09:00 h | Autor: Da Redação
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Uma nova doença passou a chamar atenção dos brasileiros neste ano: a Febre do Oropouche (FO), uma arbovirose transmitida por artrópodes, como mosquitos ou carrapatos. Na Bahia, são mais de 200 casos confirmados, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab). O maior número está concentrado no município de Gandu, com 29 ocorrências.

A nível nacional, o avanço de casos espanta. Em 2023 foram registrados 832 casos da doença, enquanto 3.354 ocorrências foram registradas apenas nas quinze primeiras semanas de 2024, de acordo com o Ministério da Saúde.

Segundo especialistas, ainda não é uma tarefa fácil identificar a doença e diferencia-la da dengue e outras arboviroes. Além disso, o aumento excessivo de casos preocupa e o medo de uma nova epidemia vem à tona. Por isso, o Portal A TARDE conversou com o infectologista do Grupo Fleury Celso Granato, detentor da Diagnoson a+ na Bahia. O especialista esclareceu as principais dúvidas sobre a febre.

O que é Febre do Oropouche e como surgiu? 

A febre do Oropouche é uma doença causada pelo vírus de mesmo nome, o vírus do Oropouche, que é uma doença que foi descoberta lá nos anos 50, em Trinidad e Tobago, aquelas ilhas lá do Caribe. Ela já existe e estão super espalhadas por toda a Amazônia, tanto a Amazônia brasileira, como peruana, Colômbia e Venezuela.

Quais os sintomas da infecção?

Os sintomas costumam durar até uma semana, mas apresenta uma recuperação lenta que pode levar várias semanas. Felizmente, não há registros de possíveis sequelas.

Após a picada do mosquito infectado, o período de incubação pode variar entre quatro e oito dias (chegando a 12 dias em alguns casos). Além da febre aguda que caracteriza a doença, as pessoas podem apresentar outros sintomas: calafrios; mialgia; náusea; dores de cabeça e nas articulações; erupções cutâneas (raramente).

Em casos extremos e sobretudo em pessoas imunocomprometidas, a infecção pode afetar o sistema nervoso central, com relatos de evolução do quadro para meningite. Até o momento, óbitos associados à infecção não foram notificados.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico é muito difícil de se fazer porque ela é muito parecida, do ponto de vista clínico, com a dengue. Ela não tem as mesmas complicações, ela não dá sangramento, ela não dá choque, é uma doença mais benigna. Mas ela é uma doença que, do ponto de vista clínico, tem uma semelhança grande com a dengue. Então, como a gente está com um surto de dengue no Brasil inteiro, inclusive na Bahia, se você não fizer o teste específico para oropouche, você pode achar que é dengue. E, na verdade, pode ser a "nova" febre. A forma eficaz é realiza o teste.

Quando na fase inicial da doença, o exame PCR é o mais indicado para a obtenção do diagnóstico. Já na fase aguda dos sintomas, deve ser realizada a sorologia IgG e IgM para a detecção do vírus Oropouche.

Existe transmissão entre pessoas?

Não existe transmissão interhumana. Um ser humano não passa para outro. Agora, como esses mosquitos que transmitem, principalmente o maruim, conhecido também como o mosquito-pólvora, moram dentro da nossa casa, é muito comum a gente ver mais de um caso dentro da mesma família. Então não é porque uma pessoa passou para a outra, mas sim porque o mosquito mora na tua casa, o mosquito fêmea, e ele pica a mãe, passa doença para ela, depois ele passa para o marido, para o filho, para alguém que mora na mesma casa.

Então não teve uma transmissão de um ser humano para o outro, mas o mesmo mosquito pode picar mais de uma pessoa dentro de casa e passar a doença para vários deles. Então é assim que você adquire a infecção.

Como fazer a prevenção?

A prevenção acontece com ações que evitem a picada. Como o uso do repelente, onde sua maioria não tem contra indicação; importante também fazer um pente fino dentro da nossa casa para ver se a gente não tem criadouro de mosquito, aquela garrafa pet que tem um restinho de água, aquela tampa de garrafa que pode ter também um pouquinho de água, mas já é suficiente para cultivar o mosquito; se possível, a depender do local, usar roupa de manga longa e calça comprida, de preferência roupa clara, que assusta o mosquito.

Esse mosquito gosta de picar de manhã cedo e mais no finalzinho da tarde e começo da noite. Então a atenção deve ser redobrada principalmente nesses horários

Como avalia o cenário na Bahia e nacional? 

Na Bahia era muito raro aparecer. Eu não vou dizer que nunca foi detectado, porque conversando com outros especialistas, alguém sempre contava de casos de pessoas que tinham estado na Bahia passando férias, voltaram para as suas cidades de origem e voltaram doentes, com febre do Oropouche, mas seguramente na Bahia era muito raro, bem raro. E agora começaram a aparecer um número muito grande de casos.

Se comparado com outros estados, todas as vezes que a gente viu surto na Amazônia, nunca eram casos de dois, cinquenta ou cem, mas sempre alguns milhares de casos. Então a gente tem preocupação de onde é que vai parar isso na Bahia. O número no estado é relativamente pequeno comparado com outros locais. Mas aí começaram a aparecer casos no Piauí, em outros estados do Nordeste, por exemplo. Então a gente tem a preocupação de para onde ele está se espalhando, porque o número pode ser muito maior, visto que tem pessoas sem acesso ao teste.

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