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Aliar expansão econômica e preservação ambiental é o principal desafio

Conservação dos recursos naturais envolve moradores, empreendedores e órgãos públicos

Publicado quinta-feira, 28 de março de 2024 às 05:00 h | Atualizado em 28/03/2024, 14:35 | Autor: Miriam Hermes
Parque Muritiba, no município
de Lençóis
Parque Muritiba, no município de Lençóis -

A preservação e a conservação dos recursos naturais que fazem da Chapada Diamantina um dos atrativos preferidos do ecoturismo no Brasil, mobiliza grupos de moradores, empreendimentos privados e órgãos públicos na região. Parques, reservas e APPs têm a missão de manter preservadas as áreas nativas e, independente do modelo, todos devem somar para o aumento da conscientização de moradores e visitantes.

Com 23 anos de atuação organizada como Associação dos Condutores de Visitantes do Vale do Capão (ACV VC), o grupo formado por moradores/guias já atuava na região antes disso, principalmente em questões relacionadas com queimadas e destinação do lixo. Atualmente eles têm uma brigada voluntária de combate aos incêndios florestais, estruturada e com formação específica dos membros através de iniciativa própria.

De acordo com o presidente, Dillei Rocha, os componentes do grupo também agem junto da comunidade na promoção de uma consciência ambiental, com palestras para grupos específicos e nas escolas, além de procurar pessoas perdidas e resgatar acidentados nas trilhas. Ele citou como maior dificuldade a falta de maior presença do poder público municipal em apoio às ações do grupo na área de conscientização, bem como na fiscalização.

Neste aspecto, Rocha afirmou que existe uma lei municipal estabelecendo que o serviço de guia seja executado apenas por pessoas que passaram por capacitação e tenham autorização. “Mas não é fiscalizado e com isso temos atuação de guias piratas”, afirmou, pontuando que este trabalho é muito sério. Ele se disse preocupado com o futuro do vale e cobrou a execução de um plano ambiental abrangente para o município.

A preocupação do representante da ACV VC tem fundamento, considerando que uma pesquisa de satisfação realizada no ano passado pela startup Janoo, apontou que o item mais comentado pelos turistas tem relação aos guias/condutores, alcançando 25,92% das manifestações. “Os comentários demonstram a importância deste serviço na qualidade da experiência do visitante e que esse é um aspecto essencial para ser acompanhado pelos gestores públicos e das unidades de conservação”, segundo Tássia Correia.

Ela é sócia da Janoo.com.br, uma plataforma digital para atrativos turísticos criada no período da pandemia, que oferece mais de 50 opções situadas em diversos municípios da Chapada Diamantina. Através da ferramenta, os visitantes escolhem e tem acesso a todas informações necessárias para o aproveitamento sustentável dos locais.

“Nosso trabalho começa com uma avaliação, um plano de trabalho e um sistema de gestão, com estabelecimento de regras como número de visitantes por dia”, afirmou, salientando que o primeiro atrativo na região a restringir o acesso foi a Cachoeira do Buracão, no Parque Natural Municipal do Espalhado, em Ibicoara, limitado a 300 pessoas/dia.

Através do trabalho da startup, que está desde setembro de 2022 fazendo gestão compartilhada e controle do Parque Municipal da Muritiba, em Lençóis, é possível mensurar o número de visitantes, apontando que nos últimos 12 meses a soma é de 48.402 pessoas. Na comparação é claro o crescimento, pois em janeiro de 2023 foram 4.237 visitantes no local e 7.311 no mesmo mês de 2024.

Ela citou que também o Parque Municipal Sempre Viva, em Mucugê, conta com trabalho de portaria monitorada pela plataforma. E, embora crescente o número de atrativos com acompanhamento, ela chamou a atenção para locais que são muito procurados e ainda não tem controle para acesso, prejudicando a conservação, a exemplo do Vale do Pati que fica no Parque Nacional (Parna Chapada Diamantina).

A unidade federal é gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e, de acordo com o chefe do parque, Cezar Gonçalves, tem uma equipe pequena para cuidar de toda área, que abrange parte de seis municípios e tem 38 anos. Analista ambiental, ele afirmou que conta com parcerias e contratos pontuais em ações de infraestrutura.

Também ressaltou o trabalho contínuo de fiscalização, proteção, prevenção e combate aos incêndios florestais com apoio de moradores e grupos de voluntários. Gonçalves apontou como principais dificuldades a falta de cuidado de alguns visitantes com o lixo, e a chegada de novos caçadores na região. Disse que tem projetos para estruturar a visitação sustentável com maior controle de acesso, “mas no momento falta pessoal para tocar como necessário”, justificou.

Biodiversidade

O Projeto Morro Verde é um dos destaques entre as ações voltadas para a manutenção da biodiversidade em Morro do Chapéu. Instituído há três anos, tem como um dos focos o plantio de espécies nativas para reflorestar áreas degradadas. Outro projeto importante é o Bichos do Morro no Parque Estadual do Morro do Chapéu, que está catalogando e acompanhando com ajuda de câmeras, espécies silvestres do bioma Caatinga, algumas ameaçadas de extinção.

“Conscientizar a população local e os turistas sobre a importância da preservação ambiental é essencial para promover uma cultura de respeito e cuidado com o meio ambiente”, afirmou a prefeita Juliana Araújo. Ela pontuou que o trabalho inclui práticas sustentáveis, como o uso responsável dos recursos naturais e a proteção de áreas sensíveis.

Ao seguir a mesma linha, em Lençóis foram implementados programas para conservar o ambiente natural, visando minimizar os impactos negativos sobre o ecossistema. “Reconhecemos a importância da preservação para a sustentabilidade do turismo na região”, afirmou a secretária de Turismo, Laura Garcia, acrescentando .que foram criadas áreas protegidas, desenvolvidas campanhas de conscientização e implementado controle com monitoramento de trilhas.

Em Itaberaba o Programa de Educação Ambiental conta também com eventos de conscientização e ações de recuperação na cidade e zona rural, com manutenção de um horto capaz de produzir 20 mil mudas/ano, conforme o secretário de Meio Ambiente, Jakson Gomes.

Ele disse que a criação da Lei do Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) reforça o trabalho e favorece a restauração de todas nascentes no município, principalmente na zona de amortecimento no entorno da unidade de conservação Serra do Orobó (Itaberaba/Rui Barbosa). Para Gomes, o projeto de revitalização e melhoramento em curso do Parque Municipal do Açude Juracy Magalhães, objetiva a oferta de um espaço estruturado com foco no ecoturismo regional.

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