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Opinião
'Aprender a ler...'
Sem deixar de ser secretário de Cultura do estado, decidi retomar minhas velhas trincheiras de vida e voltar à militância da educação social. Perceba: a meu entender, a educação é uma das vertentes da Cultura, que compreende todo o patrimônio criado pelo Homo sapiens. Educação, meios de comunicação, família, por sua vez, são instituições de transmissão desse descomunal legado: ciência, religião, arte, língua, valores, jeito de andar, forma de parir, Olodum, Mozart e tudo o mais.
Corta para o Brasil recente. Quando vi a eufórica celebração aos nossos atletas olímpicos vencedores, sobretudo os baianos, pensei: puxa, eles merecem! Isaquias, Robson Conceição, garotos "marcados para perder" que subiram ao pódio. Devem ter começado a treinar com Ki-Suco e bolachão, pouco ou nenhum apoio, se a eles não chegou a bolsa-atleta de Lula e Dilma.
Inda assim, o sorriso satisfeito e hipócrita dos que nada fizeram por eles, parecia dizer entre os dentes: "Isso, ponham a medalha e não passem daí. Não queremos mesmo é a presença de vocês dividindo outros espaços nossos como aeroportos, universidades, shoppings de luxo e ruas de Paris. Chegar lá através do esporte e da arte, até suportamos; da educação, não. Serão muitos e podem tomar gosto".
Foi então que aceitei o convite de Mário Kertész - esse genial baiano! - e topei fazer na Metrópole o programa Aprovado que apresentava na TV. Com o nome "Ouvindo e Aprendendo", vamos cacifar mais negros pobres da rede pública para encarar o Enem. Montei, também, um curso gratuito de redação e português para os estagiários da Secult, que ocorre após o expediente. E vou topando convites de ONGs e cursinhos sociais que me chamem. E podem me chamar que encontro sempre tempo! Sou um professor-secretário que faz a gestão... e a transmissão da cultura.
Entre as tantas lições que aprendi na infância, está uma, cantada nas rodas de maculelê e capoeira: "Aprender a ler pra ensinar meus camaradas". É por aí.
