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Titina Sila

Publicado terça-feira, 11 de fevereiro de 2014 às 10:18 h | Autor: Jaime Sodré | Professor universitário, mestre em História da Arte, doutorando em História Social
Ilustração mulher negra
Ilustração mulher negra -

O panteão dos heróis reserva espaço à participação masculina, temos uma historiografia negligente à participação feminina. Em atrevida correção, lanço-me, em especial, na divulgação destas heroínas como também sobre a história da África.

Estamos na África, ancorado na República da Guiné-Bissau, importante país situado na costa ocidental, visitado pelo explorador português Álvaro Fernandes em 1446, sítio considerado um dos maiores mercados de africanos escravizados. Interessei-me por este país pela proximidade com seus estudantes e a minha admiração por Amílcar Cabral.

A luta pela independência iniciou-se em 1956, tendo Amílcar, junto a outros companheiros, fundado o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), local em passividade relativa até 1961, quando foi deflagrada a Guerra Ultramar, declarando-se a província ultramarina como independente, tornando-se a Guiné-Bissau. Guiné Portuguesa era o seu nome, colônia desde 1446 até a data oficial da sua independência, em 10 de setembro de 1974.

O portuno refletir sobre o papel das mulheres no processo da independência da Guiné, pois nos remete ao modelo de desenvolvimento sociopolítico e econômico do continente, especificamente sobre a participação das mulheres africanas nas conquistas das independências, tanto de forma pacífica ou na luta armada.

O entendimento da importância do papel das mulheres guineenses/africanas nos embates da luta armada repercute na construção ou reconstrução dos países africanos no processo de democratização e desenvolvimento. A questão da emancipação feminina e reconstrução das identidades era importante no processo da luta de libertação.

No campo feminino será necessário visualizar o progresso alcançado nos processos de desenvolvimento e democratização, além de identificar os obstáculos que ainda devem ser ultrapassados, com medidas que melhorem a condição de vida das mulheres guineenses.

Notava-se empenho para que os estados africanos pusessem em prática arcabouços de proteção às mulheres que vivem em ameaças de guerra, na violência e em situações de precariedade moral, física e de pobreza, por isso todos os 54 estados membros da União Africana (UA) reconhecem o papel fundamental das mulheres. Embora saibamos que são vítimas da violação de direitos, é importante reconhecer que elas são sujeitos da reconstrução social, econômica e política, do desenvolvimento local, regional e continental. E a luta é para a efetivação da equidade de gênero e proteção dos seus direitos.

O Protocolo de Banjul representa o primeiro documento regional e continental que deu uma contribuição importante para o avanço da jurisprudência em matéria de tutela dos direitos da mulher e categorias sociais fragilizadas. Sabe-se que dificuldades surgirão em vista da especificidade de cada país, em aspectos culturais, religiosos e institucionais, mas vale lutar e propor medidas políticas em favor das mulheres africanas. Acesso a recursos financeiros, naturais ou materiais, e a formação.

Não se trata de generosidade e, sim, reconhecimento. Amílcar Cabral, ao abordar o processo de reconstrução nacional e conquistas de direitos políticos e civis das mulheres na Guiné-Bissau, integrou esse ideário no seu programa de ação, estabelecendo igualdade entre homens e mulheres. Ao teorizar a luta armada, evidenciou o papel fundamental das mulheres, segundo Cabral a revolução não seria vitoriosa se não contasse com as mulheres.

Ernestina Sila, Titina Sila (1943-1973), "uma revolucionária africana". Jovem, ingressou no Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde, figura carismática do movimento por sua liderança no comando da guerrilha, aos 18 anos, na Frente Norte.

Foi morta em 30 de janeiro de 1973, no rio Farim, junto aos seus comandados, em emboscada dos militares portugueses quando se dirigia a Guiné-Conakry para o funeral de Amílcar Cabral. A data da sua morte é conhecida como o Dia Nacional da Mulher Guineense, em reconhecimento à importância da mulher na luta pela independência.

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