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Inflação do aluguel acumula alta de 31,1%

Publicado sábado, 11 de setembro de 2021 às 06:04 h | Autor: Fábio Bittencourt
Juliana diz que a primeira coisa a fazer é analisar as contas de casa | Foto: Raphael Muller | Ag. A TARDE
Juliana diz que a primeira coisa a fazer é analisar as contas de casa | Foto: Raphael Muller | Ag. A TARDE -

Em um cenário de crise que mistura queda na renda e aumento generalizado de preços – a lista aqui é interminável –, com a inflação do aluguel ficou ainda mais difícil equacionar orçamento doméstico e contas da casa.

É que, mesmo tendo desacelerado a 0,6% em agosto, o IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado), utilizado como referência para o reajuste de contratos, entre eles os de aluguel de imóveis, acumula alta de 31,1% nos últimos 12 meses, e de 16,7% em 2021. Em julho, a variação foi positiva em 0,7%.

É um aumento e tanto, diz a economista e planejadora financeira pessoal Juliana Barbosa. Em agosto de 2020, o índice havia subido 2,74% e acumulava alta de 13% em 12 meses.

“O índice IGPM, mais utilizado para reajuste de aluguel, deu um boom nos últimos meses. E se não bastasse, veio a pandemia diminuindo a renda da população, e deixando o cenário ainda mais difícil”, conta.

Ela pontua que nem mesmo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, que mede a inflação oficial), vem dando “trégua à população”. O IPCA acumula alta de 5,67% no ano e de 9,68% nos últimos 12 meses, conforme divulgou esta semana o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“A constante elevação nos preços dos itens da cesta básica, da carne vermelha, do combustível e da energia elétrica tem se tornado um problema para o bolso das famílias. Costumo dizer que a inflação é um dos maiores vilões da nossa vida financeira e corrói o nosso poder de compra. Por isso é preciso está atento e tomar algumas medidas para organizar as finanças”, diz Juliana.

Morando no bairro de Piatã há pouco mais de um ano, em um apartamento de dois quartos, condomínio com infraestrutura de lazer completa, o bacharel em direito George Novaes, 35, que acaba de encarar o primeiro reajuste do aluguel conta que chegou a pensar em mudar quando soube do novo valor.

Ele foi contatado por Carine Alves, a corretora responsável pelo contrato e administração do imóvel. Resumindo, o negócio é o seguinte: segundo ele, os R$ 1,8 mil pagos inicialmente (já com condomínio), reajustados pelo IPCA, daria um total de R$ 1.960; e, pelo IGP-M (como regia o contrato), R$ 2,3 mil. Juntos, porém, e com a anuência do proprietário, o valor ficou em R$ 2 mil, ou quase 10%.

“Pelo IGP-M ficaria muito alto, entramos em negociação e chegamos a um consenso”, fala George. Perguntado sobre como ele tem feito para lidar com tantos e tão altos reajustes de preços, ele diz que só resta “apertar”.

“Aproveito o momento (de pandemia) em que as saídas já não são frequentes para sair ainda menos, vou cortando gastos desnecessários. De forma a compensar o aumento da energia elétrica, do gás de cozinha, combustível, aluguel. Pensei em mudar de endereço, comecei a pesquisar outras localidades, até que chegamos ao acordo”, fala Novaes.

Imagem ilustrativa da imagem Inflação do aluguel acumula alta de 31,1%
Carine faz a “ponte” entre inquílinos e proprietários | Foto: Felipe Iruatã | Ag. A TARDE

Estratégia é negociar

Também moradora de Piatã e especializada na venda e aluguel de imóveis na região, Carine Alves diz que a estratégia adotada para lidar com a conjuntura de inflação alta é negociar com proprietários e inquilinos as formas, ou índices de reajuste. Mas, claro, tudo vai depender do dono, ela frisa.

Ela conta que ultimamente vem se dedicando a esse trabalho, de ligar e conversar com as partes. Isso porque o reajuste é certo, algo garantido, ela diz. Geralmente, a cada “aniversário” do contrato, de 12 em 12 meses.

“Os contratos são regidos, em sua maioria, pelo IGP-M, mas, e como ele subiu muito, agora na pandemia estamos dando a opção de corrigir pelo IPCA, que está ali na faixa de 8,99. Ou, outra opção é o reajuste em 10%. Existem outros índices, mas a decisão final é do proprietário. O salário mínimo também sobe”, diz.

A pedido da reportagem, Carine simulou um aluguel atualmente na casa de R$ 900, como que ficaria se reajustado hoje. Pelo IGP-M, o novo valor seria de R$ 1.204, pelo IPCA, R$ 980, 91. Como a maioria dos contratos são feitos com base no primeiro, ela diz que o ideal é que inquilinos se antecipem à negociação.

Para Juliana Barbosa, essa é uma área em que “sempre deve haver espaço para o diálogo, buscando o melhor para ambas as partes”.

“O reajuste pode ser feito após 12 meses ou conforme esteja no contrato. Mas entender a situação financeira do inquilino também é importante. Afinal, vale mais a pena rescindir o contrato porque o inquilino não aceitou o reajuste de 20%, ou entrar num acordo e reajustar 10%, por exemplo?”.

Ainda de acordo com a economista, o IGP-M deve encerrar o ano acima dos 19%. A projeção, ela diz, é do Boletim Focus do Banco Central. Ou seja, “um percentual ainda alto para reajustar o aluguel”.

Ela dá algumas dicas para quem enfrenta dificuldade na hora de organizar as contas.

“Primeira coisa a fazer é analisar as contas de casa e entender onde há oportunidades de economizar. Seja trocando marcas e buscando pelo melhor custo-benefício, deixando de comprar determinados itens da cesta básica e trocando por outros. Evitando desperdícios dentro de casa, como deixar luz acesa, demorar muito no banho ou ainda jogar comida fora”.

Ainda de acordo com Juliana, há também outras maneiras de economizar e reduzir as despesas do lar. “Uma outra opção é mudar para uma casa menor, ou para um apartamento num bairro mais simples, buscando por diminuir valor do aluguel, do condomínio, ou ainda reduzir a prestação do financiamento imobiliário”, explica.

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