Projetos preservam histórias de casarões
O litoral baiano é conhecido por suas praias paradisíacas, mas é também repleto de regiões históricas, que abrigam casas antigas de fazendas. Reformar residências como essas requer cuidados especiais para modernizar o local sem perder a essência e a personalidade da casa.
A família Korman adquiriu uma casa em Canavieiras do Sul há 30 anos. A construção tem cerca de 60 anos, já pertenceu a um comprador e vendedor de gado e a um dono de fazenda, e passou por várias reformas desde então. Sua modificação mais recente foi feita pelos arquitetos Ieda, Sílvio e Karina Korman, da Korman Arquitetos, que procuraram respeitar a história contada pela casa.
"Nossa preocupação sempre foi manter o visual de casa de fazenda da Bahia, não acredito em interferir visualmente em um lugar em que todas as casas têm as mesmas características", conta Ieda Korman. Foram mantidas as vigas de madeira no teto e o telhado originais da casa. A fachada amarela é uma herança da região, onde a cor é muito utilizada, e acredita-se que traz fartura.
Móveis comprados em antiquários, como a namoradeira, as cadeiras e as camas Império que figuram em alguns quartos remetem à idade da casa. Para dar um ar ainda mais praiano, o piso foi substituído por um de tijolo rústico, trazendo uma sensação de "andar na areia".
Além do tijolo, outros materiais naturais foram utilizados para manter a personalidade do ambiente. Cerâmicas, mármores, bambu, madeira e algodão trazem diversas texturas à casa e mantêm o ar rústico.
Convívio com a natureza
Para a arquiteta Flávia Foguel, do escritório Foguel, Reis e Sá Arquitetura, brincar com os materiais é a melhor parte de se trabalhar com casas no litoral: "As pessoas aceitam mais cores, texturas, e elementos naturais. Podemos trabalhar com pedras naturais, madeira colonial, e elementos próprios do Brasil, como a palha", conta.
Para Flávia Foguel, um desafio de se reformar casas antigas no litoral é preservar a história sem abrir mão da modernidade. "É preciso um olhar cuidadoso para potencializar o que a casa tem de bom e modernizar o que precisa ser mudado, não só em estética, mas em funcionalidade", explica a arquiteta.
No caso das casas de praia, um dos principais focos são as áreas de convivência, como salas, varandas e áreas externas. "Estimulamos os clientes a privilegiarem o contato com a natureza, a ventilação e a luz natural, pensando em áreas abertas, como varandas e espaços gourmet, e não áreas fechadas, enclausuradas", conta a arquiteta.
Para garantir a proteção do sol e o conforto térmico, beirais alongados no telhado garantem sombras internas e externas maiores. Para garantir a ventilação e aumentar o acesso à natureza, substituir janelas por portas estabelece uma interação maior entre interior e exterior. Na casa dos Korman em Canavieiras do sul, as portas internas foram eliminadas para aumentar a circulação de ar e integrar os ambientes.
Manutenção constante
Outra preocupação em relação as casas de praia antigas é a necessidade constante de manutenção. A maresia pede a troca periódica de alguns materiais e equipamentos, como maçanetas e dobradiças de metal e ferragens.
Os cupins também podem ser um incômodo, e pedem cuidado na escolha das madeiras. "Hoje em dia é dificil encontrar madeiras resistentes. Na parte mais nova da casa temos que renovar muita coisa a cada ano, enquanto na parte antiga a madeira nunca pegou um cupim", conta Ieda.
O paisagismo também se mostra um desafio nas regiões de praia. "O terreno é arenoso e com água salobra, então tudo é uma tentativa. Temos tentado encontrar plantas que resistam", diz Ieda. Ela conta que abacaxi, palmeiras em geral, e espécies trazidas de outras praias tropicais, como Miami e Aruba, têm boas chances de se dar bem em regiões do tipo.
*Sob supervisão da editora Cassandra Barteló