Grafite leva arte para rua | A TARDE
Atarde > Caderno Imobiliário

Grafite leva arte para rua

Publicado sábado, 20 de agosto de 2016 às 08:17 h | Autor: Jade Giallorenzo
Denissena
Denissena -


Série 2/2

Após mostrar o uso do grafite em ambientes internos, apresentamos a arte em seu local de origem: a rua


Dos muros do Centro Antigo aos viadutos da Tancredo Neves. Das paredes da Cidade Baixa até as fachadas da orla atlântica de Salvador, o grafite se mostra presente no seu habitat: o espaço urbano.

Primo distante das pinturas pré-históricas nas cavernas rupestres e das inscrições de cunho político nos muros da Roma Antiga - embora a concepção atual do grafite tenha surgido na década de 1970, nos Estados Unidos -, é típico dessa arte demarcar territórios e ilustrar as problemáticas político-sociais do contexto urbano onde está inserido.

"O grafite nasce dessa necessidade de comunicação e expressão que sempre acompanhou o homem", diz a professora Ludmila Britto, da Escola de Belas Artes da Ufba.

Segundo o artista visual e grafiteiro Samuca Santos, em um lugar onde galerias e museus são pouco frequentados, o grafite também ajuda a educar o olhar artístico das pessoas. "A rua passa a ser uma grande galeria a céu aberto onde diferentes pessoas têm acesso àquela obra ali produzida, desde o morador de rua ao cara que dirige sua BMW", diz Santos.

Além da contribuição estética, essa manifestação artística - essencialmente urbana - funciona como instrumento de articulação entre a sociedade e seu espaço. "Acredito que a arte urbana oferece à cidade a problematização e a evidenciação de suas dissonâncias", diz Britto. Não por acaso os grafites de Salvador têm uma identidade muito particular, com temáticas que remetem a elementos característicos da cultura baiana.

De acordo com Márcia Mello, professora de desenvolvimento regional e urbano da Unifacs, intervenções artísticas no espaço urbano podem, inclusive, provocar mudanças na imagem e na leitura de um lugar. "A plástica dos grafites no Rio Vermelho, por exemplo, ajuda a valorizar a característica boêmia e artística do bairro", pontua.

Reconhecimento

Pelo bom momento que vive a cena do grafite em Salvador, com vários artistas e projetos atuando na cidade, era de se esperar que essa manifestação artística fosse mais bem aceita e apreciada. Porém, segundo o arte-educador e grafiteiro Denissena, essa arte não é reconhecida como mereceria. "O reconhecimento do grafite se dá por um processo de empenho e resistência, pois a nossa cidade não o valoriza como deveria".

Para a professora da Escola de Belas Artes, essa depreciação existe porque a  prática do grafite acontece na rua. "Acredito que ainda seja rotulada de 'vandalismo' sim", afirma.

Ainda que possa ser encontrada em galerias e museus, espaços "tradicionais" do circuito da arte, e ganhe evidência por estar nesses ambientes, para Denissena, é impossível dissociar o grafismo da sua essência: a rua. "Essa linguagem é urbana, efêmera, gratuita e espontânea. É uma forma de gritar sem fazer barulho", diz.

Produzida de forma livre e espontânea, essa arte possui um caráter transgressor. "O grafismo é importante porque não é uma arte dominada", aponta a professora Márcia Mello. Além disso, "o espaço urbano é inerente ao grafite, que precisa desse território para existir", diz a professora.

Publicações relacionadas