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Polos de decoração reinventam negócio

Publicado sexta-feira, 15 de julho de 2016 às 22:20 h | Atualizado em 21/01/2021, 00:00 | Autor: Renato Alban
Caminho das árvores_lojas de decoração
Caminho das árvores_lojas de decoração -

Portas largas com campainhas e seguranças recepcionam clientes na Alameda das Espatódeas, no Caminho das Árvores, em Salvador. Vãos abertos com sons altos e anúncios de promoções recebem consumidores na Rua Barão de Cotegipe, na Calçada. Com diferentes perfis, públicos e produtos, as duas vias de Salvador concentram lojas de móveis e objetos de ornamentação. Em comum, têm o pico de faturamento em 2013, a queda nas vendas no ano seguinte e as mudanças para se manterem como polos de decoração da cidade.

Nas Espatódeas e na Calçada, a estratégia é a mesma: flexibilizar os negócios. "As lojas se readaptaram. Ainda atendemos as classes A e B, mas também temos participação em empreendimentos do Minha Casa, Minha Vida", diz o gerente de uma loja de decoração das Espatódeas, Luciano Silveira. A mudança no perfil de clientes também aconteceu no polo de decoração da no bairro da Calçada. "Aqui, até os barões estão pechinchando - e é por isso que voltam", diz a vendedora Hildete Macedo, que há 15 anos trabalha em lojas de móveis da Barão de Cotegipe.

Hildete conta que o ápice do movimento na rua desde que começou a trabalhar no local foi há dois anos. Mas que, desde então, a frequência tem caído. Dono de uma loja de luminárias no local, Heldon Souza diz que a família tinha outras duas unidades, mas manteve apenas a da Calçada. "Com a crise, (a venda) caiu um bocado. O público aqui é de média renda para baixo. E vêm poucos clientes de outros bairros", afirma o lojista. Cabe à família de Heldon agora captar públicos de fora do subúrbio para aumentar as vendas.

Também no comércio de luminárias, a gerente de uma loja das Espatódeas Breiddy Méndez pretende diversificar a rede de clientes. "Estar na Alameda favorece, mas, aos olhos do povo, ela é caríssima. Às vezes, o cliente já entra na defensiva, dizendo que só quer fazer orçamento". Breiddy tem tentado criar alternativas para garantir as vendas. "Não mudamos os produtos, mas estamos mais flexíveis na negociação, oferecendo descontos e alternativas nas formas de pagamento".

Imagem ilustrativa da imagem Polos de decoração reinventam negócio

Preços baixos e descontos são os principais chamarizes das lojas de móveis e decoração da rua Barão de Cotegipe, na Calçada

História dos polos

Em uma época em que a Alameda das Espatódeas sequer existia, o agora empresário João Oliveira já trabalhava na Calçada como vendedor, em 1968. "Trabalhei nos setores de sapatos, confecção e móveis". Há 12 anos, João abriu uma loja de móveis no bairro. Assim como ele, a Barão de Cotegipe nunca se limitou a decoração. Lojas de móveis e objetos de ornamentação ficam entre comércios de alimentação, eletrodomésticos, roupas, tecidos e outros.

Segundo o arquiteto e historiador Francisco Senna, a economia da Calçada ganhou importância por causa do trem do subúrbio, inaugurado há  156 anos. Com a principal estação ferroviária da cidade, o bairro era a porta de entrada dos produtos da capital. A Calçada, diz Senna, permanece como um dos principais comércios populares de Salvador, com a venda de produtos de todos os setores para a população do local e entorno.

Já nas Espatódeas, a decoração domina. São poucas as lojas de outros setores na região. "A alameda era uma via de ligação de avenidas e se tornou uma zona de comércio em um bairro que era para ser estritamente residencial", conta o historiador. Uma loja levou a outra e o maior polo de decoração da Bahia foi formado. A loja que Luciano Silveira gerencia, por exemplo, foi para a alameda há 12 anos, após 16 anos na Barra. "Tivemos um crescimento de resultado muito grande quando viemos para cá", lembra o gerente.

Senna conta que, até a década de 70, a Barra reunia butiques de marcas de elite em Salvador. A decadência desse mercado de luxo no bairro começou com a chegada dos shopping centers. O primeiro deles foi o Orixás Center, em 1973. O centro surgiu como extensão da Avenida Sete, que até então era o polo de comércio das classes de alta renda no estado, inclusive de decoração, com as três grandes lojas do setor: Imperial, Suprema Móveis e Norma.

Em 1975, a fundação do  Shopping da Bahia causou o deslocamento do comércio de Salvador para a área que passou a ser chamada pelo antigo nome do centro comercial, Iguatemi. Um ano antes, o Caminho das Árvores havia sido criado por decreto. Era o início das Espatódeas, única alameda das 17 do bairro  reservada para atuação comercial. Desde a década de 90, no entanto, as lojas já ganham transversais à via, movimento que se intensificou no início desta década, com a alta nas vendas entre os anos de 2011 e 2013.

De olho no futuro

Vendedores, gerentes e comerciantes dos dois centros urbanos de decoração permanecem temerosos por causa da situação financeira do país, mas continuam acreditando na força dos polos mesmo durante a crise.

Enquanto muitas marcas deixam a Calçada, o empresário Antônio Leite resolveu apostar na Barão de Cotegipe. Contador há 39 anos no setor da construção civil, ele abriu uma loja de estofados com o marido da filha. "Meu genro, que é comerciante no bairro há quase 20 anos, me sugeriu: 'Vamos abrir para tentar'", conta Antônio.

Nas Espatódeas, o gerente Luciano Silveira se mostra otimista em relação às vendas. "O mercado tem reagido bem nos últimos meses. A associação local tem feito campanhas que estão nos ajudando".

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