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Praças e arborização valorizam os imóveis

Publicado sexta-feira, 15 de abril de 2016 às 22:51 h | Atualizado em 21/01/2021, 00:00 | Autor: Renato Alban
Mario Amici_Idealizador do Apita
Mario Amici_Idealizador do Apita -

No Itaigara, uma encosta cheia de entulho de obras tornou-se uma praça com calçadas arborizadas. No Costa Azul, um matagal abandonado deu lugar a um jardim com plantas e refletores. Em Cajazeiras, praças e calçadas ganharam árvores e o leito de um rio foi recuperado. No Canela, um depósito irregular de lixo virou um canteiro de plantas. Todos esses bairros de Salvador foram transformados por intervenções autônomas dos moradores ou frequentadores.

A obrigação de fazer praças e de arborizar espaços públicos é da prefeitura, mas o próprio município reconhece que não dá conta de todas as ações que precisam ser feitas. "A prefeitura faz o esforço de plantar mais árvores e de requalificar praças, mas, se não contar com o envolvimento do morador, dificilmente isso tem um plano a longo prazo", diz o secretário de Cidade Sustentável de Salvador (Secis), André Fraga.

A arborização e a construção de praças tendem a valorizar os imóveis desses locais, segundo o Sindicato da Habitação (Secovi-Bahia). Não por acaso, o Corredor da Vitória e o Horto Florestal têm os metros quadrados mais caros de Salvador. Em terceiro lugar está o Itaigara. "Os moradores de lá já protegem as árvores e estão ampliando a arborização", conta o presidente do sindicato, Kelsor Fernandes, ressaltando que a estrutura dos bairros também é fator importante no preço do metro quadrado.

Transformação do espaço

No Itaigara, o grupo criado pelo médico Mario Amici, 48 anos, já arborizou 2,5 km de calçada. E tudo começou com o barulho de uma motosserra, há seis anos. "Estavam destruindo árvores em área pública e o encarregado me disse 'você aqui não apita nada'". Da conversa surgiu a ideia do movimento e do nome do grupo, Amigos pelo Itaigara (Apita).

Depois de convidar outros síndicos a participar do Apita, Mario pediu ajuda à Secis. Além de mudas de árvores, o médico conseguiu bancos, luminárias quebradas e pisos que sobraram da obra do Parque da Cidade. Com o material, tem construído uma pracinha em local que era usado como depósito de entulho.

Com uma rede de quase mil moradores, o Apita usa a valorização dos imóveis como argumento para aumentar a adesão ao movimento. "O preço dos imóveis no entorno da praça Ana Lúcia Magalhães (também no Itaigara), por exemplo, aumentou depois da requalificação. É quase impossível encontrar apartamentos à venda ali", diz o dono de uma imobiliária com unidades no  bairro, Ederson Galeno.

O aumento de preço de imóveis pela melhoria dos espaços de convivência também tem ocorrido em Cajazeiras, onde a organização Caja Verde, criada para proteger o leito do rio Ipitanga, oferece palestras sobre sustentabilidade em escolas públicas e estima ter plantado mais de 500 árvores em praças e calçadas.

Assim como Mario, Kilson Nelo, 51, coordenador da Caja Verde, conta com a doação de mudas pela prefeitura. Esse contato com a gestão municipal é necessário para as intervenções urbanas. "Se não tem embasamento técnico, deve recorrer à prefeitura, porque a proposta dos moradores pode ser inviável", explica o  urbanista Armando Branco.

Com a orientação do poder municipal, evita-se, por exemplo que as espécies de árvores escolhidas causem problemas à iluminação, fiação ou tubulação. Para facilitar essa escolha, a prefeitura vai lançar em junho o Plano Diretor de Arborização Urbana, onde lista 40 espécies adequadas para calçadas e praças.

Imagem ilustrativa da imagem Praças e arborização valorizam os imóveis

Débora Dinoné (blusa cinza) reuniu um grupo e criou o movimento Canteiros Coletivos (Foto: Luciano da Matta l Ag. A TARDE)

É importante zelar

Tão importante quanto plantar é manter. Para o secretário de Manutenção da Cidade  (Seman), Marcílio Bastos, esse zelo dos moradores com os bairros tem aumentado nos últimos anos. "Em duas praças que recuperamos desde 2013, quem faz a jardinagem e cuida da manutenção é a população. Só vamos capinar".

O mesmo acontece no Costa Azul, onde um bar cuida de uma pracinha desde 2013. "Tinha um matagal na frente que dava rato. Fizemos o jardim, colocamos refletores e limpamos. A gente também pinta o banco e o meio-fio", diz o gerente do bar, José Nilton, 26.

A ajuda na manutenção do bairro é o primeiro passo, mas há moradores que vão além. A comunicadora Débora Dinoné, 37, criou há quatro anos o movimento Canteiros Coletivos, que, além de plantar e manter um canteiro no bairro que morava na época, o Canela, fez intervenções no Gantois,  Engenho Velho de Brotas e Rio Vermelho. O grupo também já deu oficinas com o apoio de institutos sociais. Hoje, sofre com a falta de apoiadores.

A falta de recursos é o maior problema dos moradores que intervêm nos bairros. No Itaigara, os condomínios dão uma contribuição financeira ao movimento. Ainda assim, o Apita tem dificuldade em viabilizar projetos. O mesmo ocorre em Cajazeiras, onde Kilson e outros moradores pagam boa parte das ações. "Nos eventos, temos alguns comerciantes locais que colaboram", conta.

Apesar de se queixarem do custo e trabalho, os moradores responsáveis por praças, árvores, canteiros e jardins persistem por acreditar que o esforço se paga, seja na valorização do imóvel seja na melhoria da qualidade de vida. "Quando planto uma árvore, crio um espaço de convivência. No sol, nem conseguimos trocar uma palavra. Na sombra, conversamos, fazemos amigos", diz o idealizador do Apita.

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