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Condomínios precisam estar preparados para os episódios de emergências

Funcionários e moradores devem ser orientados e a estrutura do empreendimento ser acessível para urgências

Publicado sábado, 17 de fevereiro de 2024 às 06:20 h | Autor: Mariana Bamberg
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Emergências médicas são sempre episódios de tensão dentro dos condomínios. Não foi diferente no caso envolvendo a jovem que morreu em um encontro no apartamento de um jogador do Corinthians, em São Paulo. Livia Gabrielle, de 19 anos, foi atendida por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas não resistiu após quatro paradas cardiorrespiratórias. Áudios enviados pelos socorristas reclamando da demora para ter acesso ao condomínio vazaram e reacenderam a discussão sobre como síndicos e administradores podem preparar suas equipes para momentos como esse.

Em um grupo no WhatsApp, os profissionais envolvidos no atendimento a Lívia relataram que tiveram dificuldade de adentrar em uma parte do condomínio, por conta da altura da ambulância. Além disso, eles reclamaram que o protocolo de segurança do local onde mora o jogador teria atrasado o atendimento. E, já dentro do condomínio, sem acompanhamento de algum funcionário, a equipe não conseguiu encontrar a torre correta. Tudo isso teria dificultado o socorro à jovem, que deu entrada no hospital 20 minutos depois do primeiro chamado, mas não resistiu. Os áudios em questão já estão em posse da Polícia Civil de São Paulo, responsável pela investigação do caso. 

Coordenador do Samu em Salvador, o médico Ivan Paiva aponta justamente a autorização para adentrar no condomínio e a dificuldade de encontrar a unidade domiciliar do paciente como os desafios mais comuns nesse tipo de atendimento. Esses obstáculos ficam ainda maiores, segundo ele, em condomínios com um número muito grande de torres e apartamentos.

“Muitas vezes, temos um condomínio enorme, com milhares de unidades, quase uma cidade. E quando chegamos, muitas vezes, não foi avisado à portaria, não foi detalhado. Isso atrasa muito o atendimento, dificulta encontrar a unidade, às vezes nem encontramos, temos que ligar de volta [para quem fez o chamado de emergência]”, conta o coordenador do Samu.

Para o médico, além dos moradores serem orientados a avisar e detalhar a situação para a portaria, é indicado também que um funcionário ou até um familiar do paciente acompanhe a equipe socorrista durante o atendimento. Essas medidas teriam ajudados no caso da jovem e é o acontece no condomínio do síndico profissional Rildo Oliveira.

“Nenhum prestador de serviço adentrar ao condomínio sem que um funcionário o acompanhe. Isso é válido também para emergências. Se não houver um funcionário no momento, pedimos até a um morador mais próximo que faça isso”, conta Rildo.

No condomínio onde Rildo é síndico, o público é majoritariamente idoso. Por isso, segundo ele, a preocupação é ainda maior com esses episódios. Há treinamentos e orientações para que os funcionários priorizem os casos de emergência. Mas ele ainda pondera que este tipo de situação exige um equilíbrio dos gestores condominiais: possibilitar o atendimento médico, mas também não colocar em risco a segurança dos moradores e do próprio condomínio.

Prioridade

“Era para ser muito mais fácil, mas o problema hoje é que precisamos ficar atentos a golpes, pessoas que querem adentrar no condomínio e se disfarçam de entregadores, de equipes de emergência. Se disfarçar de equipe do Samu é mais difícil, mas ainda ficamos com medo. Por isso, nossa orientação é dar acesso, é sempre no sentido de que a emergência tenha prioridade, mas há também a preocupação com a segurança dos moradores. É uma faca de dois gumes”, afirma o síndico profissional.

Segundo Rildo, não é tão raro condomínios com entradas fora do padrão, que acabam dificultando ou impossibilitando o acesso da ambulância, como aconteceu no caso da jovem em São Paulo. Na região central da cidade, onde os empreendimentos são mais antigos, é ainda mais fácil se deparar com essa situação, alerta o síndico. 

“Em regiões mais novas, como Paralela, Jardim de Alah, as entradas já seguem um padrão. Mas no Centro da cidade, onde os condomínios são mais antigos, a legislação era outra quando eles foram construídos, as ambulâncias eram diferentes, então é mais comum essa dificuldade. Em alguns, dá para desmontar o portão, em outros não, mas o atendimento não pode deixar de ser realizado por isso”, afirma o síndico.

Para saber como reagir nessas situações e até contornar dificuldades com a entrada do condomínio, a orientação do coordenador do Samu é que seja discutido em uma reunião condominial um plano interno de emergência. “Como os funcionários e moradores devem reagir, qual o procedimento, qual a melhor rota de acesso, porque, por exemplo, muitos elevadores não têm espaço para uma maca. E tendo alguém ali orientando vai ficar muito mais fácil, mais rápido. Uma parada cardiorrespiratória, por exemplo, precisa de atendimento imediato. É importante discutir tudo isso”, explica.

Gestor de um condomínio de 168 unidades, Gil Lopes acredita que a existência de um plano interno pode, inclusive, ajudar a lidar com o desespero típico do momento. Ainda assim, para ele, emergência é sempre um momento delicado em todo condomínio e cada um reage de uma forma. 

“Há situações em que o desespero acaba atrapalhando; por isso, é importante manter um plano de ação eficiente e que toda a equipe tenha conhecimento de como agir em certas situações. Mas isso depende de cada emergência. Quando é algo de saúde, nós de pronto acionamos o Samu, acionamos algum familiar. E, dependendo da situação, socorremos para o hospital mais próximo”, conta.

Mas Gil também defende que é necessário ponderar a questão da segurança mesmo em caso de emergências. De acordo com ele, em seu condomínio não há flexibilização para o acesso interno durante essas ocorrências. “Isso abriria precedentes para invasões ou mesmo outros problemas. A identificação de quem vai acessar é necessária”, garante ele.

O síndico lembra que recentemente houve uma emergência em seu condomínio e os próprios funcionários acionaram o Samu e acabaram levando o morador de cadeira de rodas para o hospital mais próximo. Tudo isso, foi feito enquanto ele acompanhava o socorro por telefone. Mas a assistência do condomínio pode precisar de mais urgência e é por isso que o coordenador do Samu orienta que todos tenham um kit de primeiros socorros e um desfibrilador cardíaco.

“Todo condomínio tem um extintor de incêndio, mas nem todos têm um desfibrilador na portaria e a chance de alguém passar mal é maior do que a de um incêndio. É um socorro em questão de minutos com um treinamento muito simples, que o próprio Samu pode articular com alguma universidade para fazer”, destaca o médico.

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