Pequenas empresas voltam a buscar crédito
Gerir uma empresa nunca foi fácil. Renovar estoque, fazer caixa, pagar as despesas diárias, cumprir com a folha de pagamento e ainda investir em um plano de expansão podem parecer atividades impossíveis de ser conciliadas. Ainda mais quando grande parte dos empresários tem dificuldade – ou até aversão – em tomadas de crédito nos bancos. Mas o cenário vem mudando. Um levantamento do Sebrae revelou que, desde 2015, essa é a primeira vez que cresce o número de micro e pequenos empresários que recorreram a empréstimos ou financiamentos.
Segundo a pesquisa, este ano, 18% dos donos de micro e pequenas empresas haviam buscado crédito, o que representa 4 pontos percentuais a mais do que o índice do ano passado (14%), mas ainda 6 pontos abaixo do percentual de 2015 (24%) – último ano em que houve crescimento.
Apesar do avanço, para a analista do Sebrae Adriana Pereira, “o aumento ainda é pequeno” e decorre de dois fatores. O primeiro deles está relacionado às tentativas de honrar os compromissos mesmo diante das dificuldades impostas pelo quadro econômico atual. E o segundo, às oportunidades que têm se apresentado para alguns setores e exigido recursos para a compra de máquinas e equipamentos.
Medo de dívida
Cleide Andrade é dona do Rainha do Pão de Alho e distribui seu produto para bares e restaurantes da cidade. A empreendedora tinha verdadeira aversão a empréstimos, após um financiamento pessoal que não conseguiu renegociar. Com dois anos de negócio, e sem fazer uso de crédito algum para investir na empresa, ela agora pesquisa, faz as contas e tenta vencer o medo de fazer mais uma dívida.
Cleide fazia parte dos 32% de pequenos empresários que tinham aversão a tomadas de empréstimos e financiamentos em 2018. Volume que, segundo a pesquisa, reduziu para 23% em 2019.
Caso Cleide opte pelo crédito, ele “ajudaria a aumentar a produção do Rainha do Pão de Alho”. A empresária iria investir na finalização da cozinha da empresa, na aquisição de equipamentos e ainda na parte visual da marca. Cleide conta que já chegou a perder oportunidades e não conseguir atender mais clientes por conta do tamanho do espaço de produção.
“Agora vejo que empréstimo é necessário, porque é mais rápido e precisamos aproveitar o momento para crescer. Mas ainda fico me perguntando até que ponto vai me beneficiar ou se vai ser mais uma dívida a longo prazo”, revela.
Esse momento é propício para Cleide e outros empresários optarem pelo crédito. Quem afirma isso é Luiz Mário Vieira, especialista da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais (SEI).
“Os bancos estão mais dispostos, as taxas de juros reduziram, a economia está reagindo, a demanda está aumentando. Tudo isso proporciona um bom momento para recorrer ao crédito”, explica Luiz Mário.
Caso Cleide opte pelo crédito, ela estaria seguindo o exemplo de Anailde Ramos, dona da Belle Pratik, uma loja de móveis e acessórios para lojas. A empresária recorreu ao empréstimo logo após o primeiro ano do seu negócio. De lá para cá, já foram seis, voltados para capital de giro e reforma.
Para Anailde, em algum momento, todo comerciante precisará recorrer a um crédito. Mas ela ainda acalma quem já pensa em toda a burocracia: “A dificuldade é mais no início”.
“No começo você tem que provar que tem credibilidade no mercado. O banco faz muitas exigências. Eu, por exemplo, precisei dar uma casa como garantia. Agora, como já tenho um boa ficha, fica tudo mais fácil”, relata a empresária.
Essas exigências são, de acordo com especialista do Sebrae, os principais empecilhos enfrentados pelos empreendedores que buscam empréstimo e financiamento. A falta da documentação adequada dos sócios e da empresa, de um plano de negócios, de uma garantia ou da comprovação de receitas, despesas e orçamentos são, segundo ela, as maiores dificuldades que têm os empresários.
Embora as atenções estejam voltadas para o momento de recorrer ao banco, Anailde acredita que a preocupação maior deve ser com o momento posterior. “É preciso saber o que vai fazer com aquele recurso, como vai gerir e encaminhar e qual o retorno dele. Isso é o que vai fazer a diferença”.
* Sob supervisão da editora Cassandra Barteló