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O equilíbrio entre criar e ganhar dinheiro

Publicado domingo, 15 de abril de 2018 às 07:00 h | Atualizado em 21/01/2021, 00:00 | Autor: Gilson Jorge
Salvador recebe evento sobre economia criativa, setor que gera R$ 2,5 bilhões por ano na Bahia
Salvador recebe evento sobre economia criativa, setor que gera R$ 2,5 bilhões por ano na Bahia -

Somadas, as atividades que têm ideias como capital principal geram na Bahia por ano cerca de R$ 2,5 bilhões em riquezas. É a chamada economia criativa. Isso representa 1% do PIB do estado. Em São Paulo, que tem o maior mercado de criação do país, esse percentual é de 3,9%, segundo o mapeamento da indústria criativa feito pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Fierj).

São pessoas produzindo cenários para filmes, escrevendo peças de teatro, gravando jingles para comerciais. Uma infinidade de atividades criativas que nem sempre têm uma noção do quanto cobrar pelo seu trabalho, cujo valor é calcado na subjetividade. Esse assunto, aliás, é um dos temas que serão abordados durante os eventos do Dia Mundial da Criatividade, 21 de abril, que terá oficinas em 16 cidades, inclusive Salvador.

“Às vezes o cliente pergunta como vou cobrar tal preço por um serviço que demorou 40 minutos. A questão é que para fazer um bom trabalho nesse tempo é preciso ter anos de experiência, conhecimento acumulado”, explica a cenógrafa Renata Matos.

Ela é responsável desde 2014 pela ambientação da Fliquinha, a programação infantil da Festa Literária Internacional de Cachoeira, a Flica, e se tornou um dos nomes mais requisitados da cidade nesse setor. Atualmente, Renata trabalha na nova temporada do programa Brasil Orquestral, na Caixa Cultural.

Apesar das incertezas para quem vive de arte, ela não se queixa da demanda. “Nos dois últimos anos, enquanto todo mundo se queixava da falta de trabalho, eu fiz bastante coisa”, declara.

Se ainda é difícil receber remuneração justa na economia criativa, as possibilidades de criação de novos serviços parecem amplas.

“A criatividade tem sido apontada por diversos profissionais e estudiosos como uma das mais importantes características que temos”, afirma a designer Lívia Fauaze, coordenadora local do Dia Mundial da Criatividade. Para ela, é preciso desmistificar a noção de que a criação está sempre ligada às artes. “A criatividade às vezes surge de algo bem simples”, afirma.

Lívia foi convidada para coordenar o evento em Salvador por Lucas Foster, criador e diretor-executivo do ProjectHub, empresa baseada em São Paulo e que foi primeira rede brasileira a conectar boas ideias com empresários dispostos a bancá-las, os chamados investidores-anjo. O ProjectHub tem cerca de oito mil empreendedores cadastrados, inclusive baianos, como o La Frida Bike Café, empreendimento social voltado para o desenvolvimento de mulheres negras do subúrbio.

“Salvador tem um povo muito criativo e está em condições de empatar ou mesmo ultrapassar Recife como lugar de inovação”, afirma Foster.

Por apostar nisso, o Circo Picolino lançou no início do mês passado a Universidade Livre de Artes do Circo, um espaço em que é possível estudar técnicas circenses para profissionais que atuam em outras áreas, como o cinema, a TV e o teatro. “Oferecemos oficinas de palhaçaria, acrobacia e equilíbrio, técnicas tradicionais do circo”, explica Apoena Serrat, idealizadora do projeto, que fará parte de uma mesa na programação do Dia Mundial da Criatividade em Salvador.

Imagem ilustrativa da imagem O equilíbrio entre criar e ganhar dinheiro
Apoena criou a Universidade Livre de Artes do Circo

Registro profissional

Uma questão que preocupa Apoena é a possibilidade de que a profissão de artista deixe de ser regulamentada. Uma mudança que traria ainda mais incerteza a uma classe profissional que normalmente atua sem muitas garantias de retorno financeiro. A Procuradoria Geral da República (PGR) enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF 293) que questiona a profissão de artista. A ADPF deve ser votada no próximo dia 26, junto com outra (183) que questiona a profissão de músico.

“É extremamente grave. O registro profissional garante à classe direitos significativos. Vai ser muito mais complicado realizar e captar recursos”, diz Apoena.

“Extinguir a necessidade de registro profissional, entre tantas implicações, reflete que este assunto e a cultura de modo geral não é de interesse e prioridade do atual governo”, completa Lívia.

Criado em 2011, o Dia Mundial da Criatividade era comemorado até o ano passado em novembro. Por decisão da ONU, a partir deste ano comemora-se a Semana Mundial da Criatividade a partir de 15 de abril, data do nascimento do inventor e artista Leonardo da Vinci, terminando a semana no dia 21 de abril, escolhido para centralizar as atividades comemorativas em várias partes do mundo.

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