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Em Salvador, cada ‘balada’ chega a custar R$ 490

Despesas com deslocamento, ingresso, consumo, estacionamento

Publicado segunda-feira, 29 de abril de 2024 às 09:00 h | Autor: Fábio Bittencourt
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Com a renda aviltada pelo custo de vida cada vez mais alto, economizar virou palavra de ordem. Mas, em qual área da vida? Como, de um modo geral, gastos com moradia, alimentação e transporte comprometem grande parte do orçamento, resta cortar o que não é essencial.

Para o especialista em finanças pessoais, João Victorino, a medida passa inicialmente por limar, ou combinar melhor, "rolês" aleatórios e noitadas. Ele faz contas para demonstrar que o dinheiro despendido em baladas pode fazer a diferença no final de um mês, um ano, ou mais.

Listando despesas como, deslocamento (aplicativo/táxi/combustível), ingresso, consumo, estacionamento, gorjeta; vestuário, maquiagem /cabelo, cuidados infantis, entre outros, Victorino calcula que uma simples saída chega custar até R$ 490, outras vezes passar, aponta.

"Fazendo a soma de todos os gastos, temos o valor de R$ 490 por noite. São R$ 40 de transporte, mais R$ 50 pela entrada, R$ 100 do consumo, R$ 50 de vestuário, R$ 30 de estacionamento, além de R$ 200 com cuidados infantis, e R$ 20 de gorjetas", diz.

Victorino faz a ressalva de que os custos envolvidos podem variar significativamente dependendo da cidade, do local escolhido, interesses e "estilo de vida". Mas que, ao mesmo tempo, são valores associados a uma saída à noite em "qualquer capital brasileira".

E segue fazendo contagem. "Se você está acostumado a gastar R$ 490 por noite, e sai para se divertir todos os finais de semana do mês, deve gastar, em média, R$ 1.960 por mês. Se juntar esse valor ao longo de um ano, poderia ter poupado R$ 14.400".

"Este recurso investido em um título de renda fixa com rentabilidade de 10% ao ano, poderia gerar R$ 1.440 de rendimento ao final do período, média de R$ 120 por mês. No entanto, é importante lembrar de que esses números são estimativas, e variam com base em hábitos, localidade e condições financeiras", frisa o idealizador do canal A Hora do Dinheiro.

Ele, contudo, destaca que a interação social "é um aspecto essencial na vida de qualquer ser humano", e apenas sugere que as pessoas se inspirem no "exercício".

"A ideia aqui não é ser careta. Não estou defendendo que você não se divirta, mas que tente fazer diferente por um mês, para dar aquele choque positivo nas contas. E perceba que as mudanças positivas e equilibradas na busca de uma vida mais leve criam um caminho mais feliz e completo", fala.

Povo "festeiro"

Ainda segundo Victorino, a despeito do brasileiro ser um povo "festeiro", desde a pandemia, porém, a ideia de economizar algum dinheiro com "saídas" vem se popularizando entre os mais jovens.

"Já há uma mudança de comportamento, seja pela própria queda na renda, o aumento da lei seca e a infraestrutura em blitzes (de alcoolemia). E se tem redução de álcool, pode-se investir mais. Não ir para a balada, ficar em casa vendo um filme, jantar, tomar um vinho".

Reunir os amigos em casa, tornou-se uma das principais programações do bacharel em direito Luan Guedes, 34 anos. Solteiro, do tipo "viciado" em festa, há cerca de três anos, ele decidiu que era hora de priorizar gastos, e mirar na casa própria.

Com uma renda bruta na faixa dos R$ 5,5 mil, seus principais compromissos são com o aluguel de um quarto e sala na Pituba, financiamento de veículo, conta de luz, condomínio, telefone e internet. Este ano, por exemplo, de férias do trabalho em janeiro, aproveitou festas populares e gratuitas, como Lavagem do Bonfim, Festa de Iemanjá, São Lázaro e Gerônimo (no Pelourinho).

Praia, só com o próprio cooler, cerveja e gelo. A cadeira e o sombreiro, "negociando com o barraqueiro". E muito pedido delivery de bebida, quando para uma reunião entre amigos, na qual ele próprio vai para a cozinha, após ter estudado o preparo de peixes, carnes e outros pratos "mais acessíveis", a exemplo de uma tábua de frios, brinca. Tudo, claro, rateado entre os convivas - geralmente, quatro, às vezes oito, dez.

Segundo diz, atualmente sai apenas duas vezes no mês, e, se vai em bar ou restaurante, é participando de lista do estabelecimento por meio de perfis em rede social, em busca de desconto ou melhor preço. Já adquiriu, no entanto, passaporte para o Rock in Rio, em setembro. Faltam passagens aéreas, que estão nas alturas, conta, e hospedagem, que será por aplicativo.

"Consegui fazer uma reserva (financeira) mínima, reduzindo bastante as saídas. Está tudo muito caro, cerveja de R$ 18, uma taça de vinho por R$ 30, até R$ 60. Eu gosto muito de fazer tour gastronômico, viajar para outras cidades para shows, mas precisei frear um pouco", fala Guedes, que faz plano de quitar o carro e, em um futuro próximo, dar entrada em um apartamento de dois quartos.

"Eu tenho (saldo na conta do ) FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) desde os 18 anos", conta.

Educadora financeira, a economista Juliana Barbosa destaca que o ideal nessa hora é usar da criatividade, "deixando de lado o automatismo de uma vida corrida e focada no consumo".

"Não é de hoje que os brasileiros sofrem com inflação alta, arrocho salarial e perda do poder aquisitivo. O jeito é buscar alternativas. Existem muitas opções de lazer sem que para isso seja preciso gastar muito, ou, até mesmo, sem desembolsar nada. Como ir à praia e levar lanches de casa, um passeio no parque para um piquenique. Visitar pontos turísticos da cidade, onde a grande maioria é gratuita, como museus", elenca.

"Um jantar com amigos em casa, onde cada um leva um prato. Ir ao cinema em dias mais baratos, além de assistir a peças teatrais gratuitas pela cidade. Se você optar por economizar uma quantia que seria direcionada para as baladas, vai se surpreender com o quanto de dinheiro conseguirá acumular em um curto espaço de tempo", diz Juliana.

Antes de mais nada, afirma, é necessário organizar o orçamento. "Colocar na ponta do lápis todas as receitas e despesas. Entender se as contas fecham no final do mês. E partir para a ação de economizar, cortar gastos, e direcionar todo mês uma quantia para ser investida".

"Aplicando R$ 500 por mês, com a taxa de juros de 10,75% ao ano em um investimento de renda fixa mais conservador, fará com que você acumule um montante de R$ 6.310 após um ano. De R$ 39.550, após cinco anos. E R$ 107.250, ao final de dez anos", fala.

Para o terapeuta e mentor de vida e carreira, Tadeu Ferreet, vale a pena reprogramar o presente "para que o futuro seja mais tranquilo e ajustável". O primeiro passo, segundo ele, é identificar o que é urgente e importante para cada um.

"E para isso não existe uma receita, porque cada um sabe exatamente o estilo de vida e as necessidades pessoais. Não necessariamente precisamos adotar uma medida radical, podemos analisar cada situação, e ter a compreensão das necessidades individual ou familiar, definindo planos de médio e longo prazos".

"Fazer pequenas reservas é fundamental, independente da renda mensal. Usar da criatividade, combinando reuniões em casa, seja em família ou entre amigos. Para quem é solteiro, fica ainda mais fácil criar um controle, combinar o rateio das despesas, definir o que cada um deve levar ou custear, de acordo com suas preferências de consumo".

Ainda de acordo com Ferreet, pensar somente no futuro pode trazer consequências prejudiciais para o corpo e mente, e levar a crises de ansiedade, insônia, falta de perspectiva de melhoria de vida. "É preciso pensar e agir sempre no que é importante para a vida presente, mas sem deixar de precaver o futuro, que é incerto e muitas vezes fora do nosso controle", afirma.

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