EXPOSIÇÃO
Brasileira Denise Milan tem escultura instalada na Itália

Por Mariana Mendes

Mais uma vez a obra da escultora brasileira Denise Milan fará parte de um patrimônio cultural. No final deste mês, a artista instala a escultura Mandala de Pedra na Piazza Santa Maria degli Angeli, ponto privilegiado do centro histórico da cidade de Assis, na Itália, em caráter definitivo. O trabalho é a oitava obra pública da paulistana, que também tem escultura pública em Salvador - Redenção do Pelourinho - , além de São Paulo e Chicago, nos Estados Unidos, entre outras cidades e países.
Sobre o processo de criação, Denise, que usa a pedra como matéria-prima, fala que em todos os trabalhos "é preciso partir do desconhecimento para a busca do conhecimento". Por isso, para criar a mandala, ela quis saber a história de São Francisco de Assis e sobre a cidade onde ele nasceu.
"O artista tem que conhecer passo a passo do processo e, aos poucos, entender como esse conhecimento vai se manifestar. Ele precisa interagir com a necessidade local", explica Denise, lembrando que o santo abriu mão da riqueza de sua família e amava a natureza.
Conforme a descrição da artista, a Mandala de Pedra, que ficará disposta no chão, lembra um instrumento de navegação da Terra dentro de nosso sistema solar, orientada pelo átomo do quartzo (representado por uma estrela de seis pontas).
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A escultura, que possui 2,6 metros de diâmetro, foi construída de pedra calcária rosa e branca retiradas do Monte Subásio, em Assis, local usado por São Francisco para meditar, e tem em seu centro uma meia esfera azul de sodalita brasileira, símbolo da Terra. "As pedras são as mesmas usadas nas igrejas e calçadas históricas da cidade. A mandala está relacionada com a história do lugar", diz a artista.
Enquanto pensava na construção de sua obra e coletava as pedras que usaria, Denise tinha a presença de artesãos locais, onde muitos herdaram a profissão de seus pais, por séculos. "Eles possuem a precisão de um trabalho belíssimo. Um grande conhecimento", conta.
A escultura é uma doação do Instituto Fetzer (Michigan, EUA) e faz parte da instalação "No reino do amor e do perdão: a linguagem das pedras", como parte do A Global Gathering, evento realizado pelo instituto, em Assis, em 2012, que reuniu cerca de 500 pessoas, de diferentes profissões, entre eles os artistas, que trabalham por uma sociedade melhor, que pensa na forma sustentável de se viver e se preocupa com a natureza.
O convite para expor em Assis ocorreu em 2011, depois do Fetzer conhecer o trabalho da brasileira para o planetário americano, em Chicago: Americas' Courtyard.
Relação com a Bahia
O trabalho de Denise Milan também está presente na Bahia desde 1999 com a obra Redenção do Pelourinho. A escultura fica na Praça das Artes, Cultura e Memória, no Centro Histórico de Salvador, e representa o "pilori", coluna onde os escravos eram castigados e expostos aos seu senhores.
Segundo a artista, a obra tem como objetivo a purificação. "Reinterpretamos aquele objeto. Ele passou a ser instrumento de mudança. Mas, humanizá-lo não esconde que essa pedra sangrou", explica Denise, lembrando as torturas do período colonial.
Para fazer a escultura, Denise usou quartzos azul, verde e branco, além de granito azul bahia. Algumas das pedras foram extraídas de montanhas no sertão do estado.
"Os fragmentos de quartzo verde, de algumas montanhas desaparecidas de Mirangaba, no sertão da Bahia, encontram-se aqui para enquadrar, de forma protetora, a pedra um dia mortífera", conta.
Na época de seu trabalho, ela lembra que um movimento social conseguiu que uma montanha não fosse mais destruída. "É impressionante quando o artista consegue, por meio de ações, essa intervenção", diz.
Trabalho com as pedras
O trabalho de Denise Milan está relacionado, em quase totalidade, ao uso da pedra como eixo criativo. Desde que escolheu a matéria-prima ela conta que passou por várias transformações.
"Escolhi trabalhar com a pedra por muita gente acreditar que ela é imutável", explica. "Esse trabalho me fez aprender o que era o processo de criação. Me trouxe compreensão", diz.
Denise ainda busca o significado e a representação de cada um delas na execução de sua obra."O quartzo é responsável por cerca de 90% da crosta terrestre. Ele é um bem coletivo. E é o coletivo que nos une", lembra.
Além das esculturas, Denise ainda exerce seu trabalho artístico em áreas como fotocolagem e performance. Ela também é autora de Cadumbra, livro com metapoemas de Haroldo de Campos, e co-organizadora de Gemas da Terra - Imaginação, estética e hospitalidade, entre outros.
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