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Não normalizem a corrupção

Publicado sexta-feira, 15 de abril de 2022 às 06:03 h | Autor: Rodrigo Oliveira* | [email protected]
Corrupção, em última instância, contribui pro aumento da pobreza e da desigualdade
Corrupção, em última instância, contribui pro aumento da pobreza e da desigualdade -

“Tudo vale para tirar Bolsonaro”. “Isso não é nada comparado com a época do PT”. A primeira frase foi a resposta mais comum que recebi de pessoas contrárias ao atual presidente ao compartilhar em grupos de WhatsApp as fotos em que os irmãos Vieira Lima — Lúcio e Geddel — aparecem juntos à cúpula do PT da Bahia, em um evento de divulgação do candidato petista ao governo da Bahia. A segunda foi a resposta mais comum de bolsonaristas quando compartilhei as novas notícias de corrupção no ministério da educação, no ministério da defesa e relacionadas ao filho mais novo do presidente Bolsonaro.  

Na história politica brasileira, diversas correntes ideológicas e partidárias caminham de mãos dadas quando o assunto é corrupção. Sempre há uma desculpa, uma razão. Ou simplesmente são incrédulos: “Cadê as provas?”; “Me diga um político que não é ladrão!”; “Todo mundo rouba”. A sociedade nacional, como poucas outras, passou a aceitar e a justificar a corrupção. Nossos líderes têm um papel muito essencial neste comportamento.

Líderes políticos formam opinião e moldam o comportamento do eleitor. Em um estudo publicado na prestigiada American Economic Review, pesquisadores mostraram que eleitores de Donald Trump que recebem a informação de que na localidade em que vivem a maioria das pessoas votou em Trump tem mais chance de expor opiniões xenofóbicas, isto é, contra imigrantes. 

Outros eleitores de Trump que receberam a informação que na localidade onde vivem a maioria votou em Hillary Clinton tiveram maior aversão a demonstrar estas visões publicamente. Este estudo, que utiliza avancadas técnicas estatísticas, demonstra que o fato de um presidente expor opiniões xenofóbicas  normaliza o comportamento xenofóbico quando as pessoas acreditam que as pessoas no seu entorno pensam da mesma forma.

Estudos

Diversos outros estudos recentes têm demonstrado como o comportamento de líderes políticos afetaram comportamentos e o número de casos de COVID-19. Para o Brasil não é diferente. Professores da FGV publicaram um artigo na  também prestigiada American Economic Journal mostrando que os discursos do presidente Bolsonaro contra políticas de isolamento social tiveram impactos significativos, reduzindo as medidas de distanciamento social, em municípios com uma maior parcela de eleitores do presidente.

Líderes políticos são referências para a população. O que eles falam e como se comportam afetam os valores sociais e morais. Os exemplos acima ilustram isto. Com a corrupção não é diferente. Nós, enquanto eleitores e cidadãos precisamos ter o discernimento para não cair no conto da sereia dos políticos. Não existe corrupção boa. Corrupção retira o dinheiro da saúde, da educação, das políticas públicas. Corrupção, em última instância, contribui pro aumento da pobreza e da desigualdade no Brasil. Não podemos normalizar a corrupção.

*Rodrigo Oliveira é Doutor em Economia, professor, pesquisador na UNU-WIDER - United Nations University World Institute for Development Economics

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