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Um desafio para a economia baiana

Confira a coluna de Armando Avena desta quinta-feira, 18

Publicado quinta-feira, 18 de janeiro de 2024 às 05:40 h | Autor: Armando Avena
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Houve um tempo em que a Bahia dependia inteiramente do cacau e de tal modo que a queda nos preços internacionais do produto paralisava a economia baiana. Com o tempo, a Bahia diversificou sua economia, aumentou a base industrial, ampliou a matriz produtiva, mas, passados 40 anos do auge do ciclo do cacau, permanecemos como uma economia exportadora, não de apenas um produto, mas de dois: soja e o petróleo.

A Bahia exportou em 2023, pouco mais de 11 bilhões de dólares e, desse total, 58% foram referentes às vendas de soja e petróleo, na seguinte proporção: 28% soja e derivados; 22% petróleo e derivados; 9% químicos e petroquímicos. Ou seja, estamos muito próximos do tempo em que 60% das nossas exportações eram de cacau e seus derivados. E, como naquela época, permanecemos dependentes dos humores internacionais, pois, em 2023, a desaceleração da economia global e a queda dos preços internacionais das nossas duas principais commodities, fizeram com que as exportações caíssem quase 20%. As vendas de soja caíram 10%, de petróleo 37% e de petroquímicos 36% e isso contribuiu para que o PIB baiano crescesse menos que a média nacional. 

Os dez principais produtos da nossa pauta de exportações – soja, petróleo, papel e celulose, petroquímicos, metais preciosos, algodão, minérios, metalúrgicos, frutas e cacau – são commodities, sujeitas às oscilações típicas do mercado internacional. Isso significa que  estamos novamente como no tempo de Rômulo Almeida presos ao enigma baiano, caracterizado por uma economia que gera excedente, mas parte do excedente vaza para outros locais, já que a maior parte da nossa produção não é beneficiada localmente, não agrega valor dentro do nosso território.  O fato é que, embora tenhamos desenvolvido um setor industrial pujante, que responde por mais de 20% do PIB, ele ainda permanece um produtor de matérias-primas. E precisamos mudar esse quadro, mas de uma forma diferente da tradicional, ou seja: é preciso beneficiar os grãos produzidos no Oeste; atrair empresas como a BYD e outras; retomar o dinamismo econômico de Salvador; avançar na verticalização da produção de petroquímicos, papel e celulose e outros, mas isso não basta. Um relatório recente da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) afirma que as economias dependentes do comércio de commodities precisam aumentar suas capacidades tecnológicas para escapar da "armadilha" do comércio de bens primários. Destaca a correlação entre baixa capacidade de tecnologia e alta dependência de commodities e diz que é preciso caminhar para uma transformação estrutural via tecnologia, elevando a participação da produção manufaturada e dos serviços de alto valor e dá exemplo de países como a Costa Rica e a Indonésia que superaram a armadilha da dependência de commodities.

Além de iniciativas importantes como a vinda da BYD, o investimentos nas energias renováveis e outros tantos, a Bahia precisa avançar nesse caminho e investir mais em tecnologia e inovação, valer-se mais de instituições como a Senai/Cimatec e fazer da UFBA e de outras universidades instrumentos de articulação inovadora com os setores produtivos. Felizmente, o Secretário de Planejamento do Estado, Cláudio Peixoto, informa a este colunista, que essas questões estão sendo abordadas no PDI – Plano de Desenvolvimento Integrado 2035, ora em elaboração pela Seplan-Ba, e no Plano Ferroviário da Bahia, elaborado pela Fundação Dom Cabral, para a CBPM e a SEI.  Planejamento: esse é o caminho para buscar um novo modelo de desenvolvimento mais focado na inovação, na tecnologia e na disponibilidade de infraestrutura.

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