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Os maus presságios de 2024

Confira a coluna de Armando Avena desta quinta-feira, 11

Publicado quinta-feira, 11 de janeiro de 2024 às 05:40 h | Autor: Armando Avena
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O ano de 2024 começa sob o signo dos maus presságios. Para começar, o cenário internacional está cheio de sinais de mau agouro. A guerra em Gaza, longe de arrefecer, ameaça escalar para a Cisjordânia e outros países do Oriente Médio. Na guerra na Ucrânia sequer há tentativas de paz em curso. E as duas Coreias iniciaram o ano trocando tiros na fronteira. Qualquer escalada em um desses conflitos, especialmente no Oriente Médio, pode gerar uma crise econômica de grandes proporções, com direito a disparada nos preços do petróleo. O crescimento esperado para a economia mundial em 2024 já é baixo e, de acordo com as Nações Unidas, deve se reduzir de 2,7% em 2023, para 2,4% em 2024, inferior à taxa de crescimento pré-pandemia.

Se o cenário internacional se agravar, a economia vai crescer menos ainda e o Brasil será afetado, especialmente se houver reflexos no mercado de petróleo. Aqui, os presságios são melhores, mas existem condicionantes que podem afetar a economia brasileira. O maior desses condicionantes é a taxa de juros.  As Nações Unidas projetam que o crescimento do PIB brasileiro vai desacelerar de 3,1% em 2023 para 1,6% em 2024, devido aos impactos prolongados das taxas de juros mais altas e da desaceleração da demanda externa. E o resultado pode ser pior, se o Conselho Monetário Nacional (CMN) não acelerar a queda nas taxas de juros.

A taxa Selic fechou 2023 em 11,75% ao ano. Isso significa que a taxa de juros real (descontada a inflação) está em 6,11%, a 2ª maior do mundo, atrás apenas do México. A Selic tem de cair mais para que o país possa crescer mais. A próxima reunião do Copom será em 30 e 31 de janeiro e, se pretende atingir um juro maior, ela tem de cair pelo menos 1%. Os fundamentos da economia já permitem esse movimento. A meta para a inflação em 2024 é de 3% ao ano com uma margem de tolerância de 1,5% para mais ou para menos e o mercado prevê inflação de 3,9%, ou seja, abaixo do teto da meta. Se os juros caírem e se mantiverem em um patamar mais baixo, o principal efeito será a redução no custo do crédito. Ou seja, empréstimos e financiamentos ficariam mais baratos, incentivando o consumo e o investimento produtivo. O PIB brasileiro cresceu mais de 3% no ano passado, mas a taxa de investimentos foi muito baixa. Isso ocorre porque os empresários fazem uma conta de padeiro na hora de investir: no numerador colocam a taxa de retorno esperada do investimento e no denominador a menor taxa de juros do mercado. Se a conta der menor que 1 não tem investimento, afinal, para que investir, mobilizar capital e mão-de-obra, se eu posso ganhar o mesmo dinheiro ou mais aplicando na renda fixa? E, vale lembrar, a queda na taxa Selic, reduz o pagamento de juros na rolagem da dívida interna, melhorando o perfil de endividamento do país, abrindo espaço para se chegar ao grau de investimento.

Ainda na economia teremos de enfrentar a questão do déficit zero em 2024, que não está equacionada. E para completar, 2024 é um ano de eleições, no qual tradicionalmente os gastos governamentais se elevam.

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