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Houve desaceleração, mas vai ter ‘pibão'

Confira a coluna do economista Armando Avena desta quinta-feira, 7

Publicado quinta-feira, 07 de dezembro de 2023 às 06:20 h | Autor: Armando Avena
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As previsões de forte queda do PIB no 3º trimestre não se concretizaram. Os resultados do PIB não foram espetaculares, mas a economia brasileira é resiliente e o Brasil vai ter um ‘pibão’, de pelo menos 3,2%, em 2023. É o melhor resultado da década, com a exceção atípica do ano de 2021, quando explodiu o crescimento no pós pandemia no mundo inteiro.

Muitos analistas estão lendo mal o resultado do PIB. Por exemplo: todos destacaram que o PIB cresceu apenas 0,1% no 3º trimestre em relação ao trimestre anterior, mas esse dado, que se esperava muito pior, é de curto prazo, conjuntural, tenta, e apenas tenta, definir uma tendência, no caso a desaceleração da economia.  Mas qualquer fato novo pode mudar essa tendência. 

O dado estrutural, ou seja, definitivo, que ninguém destaca, é esse: o PIB brasileiro cresceu 2% no 3º trimestre de 2023 em relação ao mesmo trimestre de 2022, e isso significa que no acumulado do ano, a economia  já cresceu 3,2%. No acumulado até setembro, a agropecuária cresceu 18%, a indústria 1,2% e os serviços 2,6%, sempre em relação ao ano anterior. É um desempenho acima da média. Note-se que isso é estrutural, nada muda essa realidade e, mesmo que no 4º semestre o Brasil fique completamente estagnado, o resultado já está dado.

Outra leitura enviesada é referente a agropecuária. No 1º semestre de 2023, quando o PIB cresceu 3,7%, todos destacaram que foi o efeito da supersafra e que, não fosse a agropecuária, o PIB seria bem menor. Agora, repetiu-se o mesmo fenômeno ao revés, estamos na entressafra, o PIB da agropecuária caiu 3,3% e foi isso que impediu o PIB global de crescer mais, todavia ninguém destaca isso.

Então, entrando na seara do realismo, o crescimento de apenas 0,1% do PIB em relação ao trimestre anterior mostra, sim, uma desaceleração, mas é fundamentalmente um reflexo dos juros altos, cuja queda demora a ser sentida pela economia. Assim, à medida que os juros caírem, esse dado, em vez de apontar para a  manutenção da desaceleração, pode apontar para o crescimento. 

É verdade que há números negativos e positivos. Em termos negativos, o principal deles é a queda no investimento, que está se retraindo em comparação ao mesmo trimestre de 2022, o que mostra claramente que a taxa de juros elevada está impactando mais o empresariado do que as famílias. A taxa de investimento no terceiro trimestre de 2023 caiu de 18,3% para 16,6%.  E a taxa de poupança foi de 15,7%, menor do que os 16,3% obtidos no mesmo período de 2022. Esse é o motivo pelo qual as previsões de crescimento em 2024 estão inferiores a 2023. 

Mas também há números positivos. O principal deles, pelo lado da demanda, é o crescimento de 1,1% do consumo das famílias, quando a expectativa era de queda.  Isso reflete a redução do desemprego, os recursos dos programas sociais, a queda dos juros e da inflação e a redução do endividamento, e esse cenário está fazendo as pessoas voltarem a consumir. Por causa disso, o setor de serviços, que representa 70% do PIB, vem crescendo a três semestres consecutivos, ainda que desacelerando. Frente a esses números, é preciso dizer que as perspectivas para a economia são boas, afinal no último trimestre o apelo das festas tende a aumentar o consumo das famílias e no 1º trimestre de 2024, uma nova safra deverá estimular a economia, mesmo com a seca em algumas áreas. Portanto, mantidos os atuais fundamentos, no que trata de economia, o PIB do Brasil vai muito bem, obrigado. 

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