Ternos de reis lutam para manter tradição | A TARDE
Atarde > Bahia > Salvador

Ternos de reis lutam para manter tradição

Publicado segunda-feira, 06 de janeiro de 2014 às 07:40 h | Atualizado em 06/01/2014, 07:40 | Autor: Cleidiana Ramos
Terno da Anunciação abriu o desfile, neste domingo, e encerra festa após missa na Lapinha hoje
Terno da Anunciação abriu o desfile, neste domingo, e encerra festa após missa na Lapinha hoje -

Quando os ternos de reis ganham as ruas da Lapinha, o espetáculo vai além da beleza dos figurinos, música e coreografia. Eles são a prova da resistência de uma tradição que desafia obstáculos, como a falta de recursos, ano a ano.

Dos 35 que já deram mais brilho à Festa de Reis,  celebrada nesta segunda-feira, 6, restam seis. Um deles é o Terno da Anunciação, que desfila  após a missa das 18h e é mantido pela Paróquia da Lapinha.

Ontem, após celebração que lotou a Igreja da Lapinha, o grupo da paróquia abriu o desfile, seguido de mais  cinco: Rosa Menina,  de Pernambués;  Terno da Lua,   Brotas; Estrela do Oriente, Liberdade; Ciganinhas, Coutos; e Terno do Sol, Pelourinho. 
  
"O processo de extinção é muito violento. Há mais quatro grupos no interior, mas não conseguimos transporte", conta José Santos, 66, presidente da União dos Tradicionais Ternos, Ranchos de Reis e Bailes Pastoris da Bahia.

Diante dos poucos recursos para promover  uma apresentação maior   - faltou o palanque, por exemplo -, a saída foi  concentrar os desfiles no dia 5 e deixar o encerramento apenas para o terno da paróquia. "Como os desfiles vão além da meia-noite, pelo menos começamos o dia 6 comemorando", disse Santos.

Tradição

O desfile de ternos é  uma das formas mais conhecidas de celebrar o Dia de Reis. Na liturgia católica, a data comemora a Epifania do Senhor, que lembra a visita dos três reis magos ao Menino Jesus.

Também chamados de "folia de reis", os ternos  são identificados, tradicionalmente, como uma manifestação de origem portuguesa.

No Brasil, passou por modificações e incluiu outros formatos como os  "bailes pastoris", que lembram as peças teatrais e os reisados - grupos de músicos que vão de porta em porta e são mais comuns no interior da Bahia.  

Os ternos têm uma estrutura que varia de 60 a 100 integrantes. Cada agremiação leva o seu estandarte e uma orquestra formada por instrumentos de sopro, percussão e cordas, como  banjo, cavaquinho e violão.

<GALERIA ID=18857/>

"Lutamos muito para manter o terno da paróquia. Fazemos feijoada e vendemos camisa. A ideia é  conseguir os recursos para manter as fantasias bonitas. O estandarte, que é todo de veludo, por exemplo,  está precisando de reforma", conta Naíde de Carvalho Simas, coordenadora do Terno da Anunciação.

O desfile deste ano recebeu o patrocínio do governo do estado. "É pouco, mas pelo menos veio", diz Naíde.

A queixa é em relação à prefeitura. "Mandamos o projeto desde março. Fizemos três reuniões, mas eles ficaram de apoiar apenas com o som", relata Jerônimo Santos.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da Empresa de Turismo S/A (Saltur),  seguindo orientação da coordenação de jornalismo da prefeitura. Mas não houve resposta até o fechamento desta edição.

Em nota, a assessoria da prefeitura só divulgou  ações relacionadas à infraestrutura, como coleta de lixo, mudanças no trânsito, ordenamento de ambulantes e monitoramento da poluição sonora.

Polêmica

O desfile dos ternos de reis na Lapinha ganhou proeminência a partir de 1975. Nos últimos dez anos, a festa - assim como outras do período pré- -Carnaval - batalha para sobreviver.  

Uma das atrações do evento era o presépio montado pelo padre José Pinto,  pároco da Lapinha por  30 anos. Ele deixou a paróquia em 2006, após ter desfilado  com uma fantasia  de orixá na Festa de Reis e adotar outras atitudes polêmicas.

Atualmente, padre Pinto  vive no convento pertencente à Sociedade das Divinas Vocações, congregação da qual faz parte, localizado no bairro de São Caetano.

Publicações relacionadas

MAIS LIDAS