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Terreiros criam rede para manter memória

Publicado domingo, 01 de setembro de 2013 às 13:00 h | Autor: Cleidiana Ramos
Estátuas de Dandalunda e outros objetos instalados no Memorial Kisimbiê
Estátuas de Dandalunda e outros objetos instalados no Memorial Kisimbiê -

Se tiveram objetos da sua fé expostos de forma inadequada, as comunidades de terreiros estão mostrando como entendem que sua memória deve ser tratada. Antes uma iniciativa particular, a organização de memoriais e museus agora integra uma rede articulada.

A iniciativa começou em  maio deste ano, a partir de um movimento coordenado pelo tata de inquice Anselmo dos Santos. Tata Anselmo é  líder do Terreiro Mokambo, localizado no Trobogy.

"Imaginei que seria interessante compartilhar ideias e também aprendermos uns com os outros", afirma o tata Anselmo.

A rede tem o apoio da Diretoria de Museus, órgão ligado ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) e Centro de Culturas Populares Identitárias (CCPI).  Ipac, Dimus e CCPI estão ligados à Secretaria Estadual de Cultura (Secult). (Ver texto ao lado).

"Unidos nós ficamos mais fortes, inclusive para concorrer a editais", diz o  tata Anselmo, que é mestre em Educação pela Uneb.

Memória - No  terreiro Mokambo está instalado o Memorial Kisimbiê, que traça um panorama sobre a história da tradição angola na Bahia.

Em um painel, por exemplo, é possível aprender sobre as etnias de origem de onde hoje estão os países Angola e Congo, que foram trazidas à força para o Brasil, como os cabindas e benguelas.

Em um outro, está descrita a genealogia do terreiro Mokambo, ou seja, a família religiosa do seu líder  tata Anselmo. Ela  inclui  Jubiabá, Joãozinho da Goméia e Mirinha do Portão.

"Nós temos que explicar por que estamos aqui e como começou a nossa história", diz o tata Anselmo.

O memorial também tem uma biblioteca e recursos audiovisuais para tornar a visita mais interessante.

"Como educador eu me preocupei em tornar o memorial uma oportunidade para ajudar escolas na aplicação da Lei 10.639/2003" (que estabelece o ensino de História da África e Cultura Afro-Brasileira).

Tradição familiar - Criado há 18 anos, o Memorial Làjoumim fica no Terreiro Ilê Odô Ogê, mais conhecido como Pilão de Prata, localizado na Boca do Rio.

O  espaço conta a história da família Bamboxê Obitikô, uma das mais importantes do candomblé.

Bamboxê Obitikô é o nome africano de Rodolpho Martins de Andrade, um dos sacerdotes mais importantes na formação da Casa Branca, considerado o mais antigo terreiro  ketu do Brasil.

No memorial estão painéis com fotografias de membros da família, mas o destaque vai para a coleção de pertences de Caetana Sowzer.

Ialorixá fundadora do Terreiro Làjoumim, localizado na Federação, ela é tia biológica e foi a mãe espiritual do babalorixá Air  José, que comanda o Pilão de Prata.

"Este memorial é uma homenagem a toda a família Bamboxê e, em especial, a Mãe Caetana. Ele conta a história da sua sabedoria religiosa e também da elegância", destaca Pai Air.

A família Bamboxê é descrita pelo historiador  Jaime Sodré como a herdeira de uma tradição chamada de "alta costura do candomblé".
Isso porque eles têm uma tradição de unir o luxo ao bom gosto em vestimentas e adereços. O espaço reúne joias, móveis, documentos e outras preciosidades.

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