Ipac tomba terreiro em Maragogipe
Fundado em 1973, o Ilê Axé Alabaxé é o sexto templo tombado como patrimônio cultural na Bahia em dois anos
CRISTINA SANTOS
MARAGOGIPE (DA SUCURSAL RECÔNCAVO) Os atabaques tocaram, na manhã de ontem, no terreiro de candomblé Ilê Axé Alabaxé, em Maragogipe, no Recôncavo baiano, para comemorar o tombamento da casa como patrimônio artístico e cultural da Bahia. Sob as bênçãos de Oxóssi, orixá que rege a casa, às 11 horas em ponto o povo-de-santo, vestido de branco, recebeu com cânticos e palmas a decisão, que foi oficializada pelo secretário da Cultura e Turismo do Estado (SCT), Paulo Gaudenzi, e Júlio Santana Braga, diretor-geral do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac).
O terreiro, de origem ketu, foi fundado pelo babalorixá Edson dos Santos, 59 anos, o Pai Edinho, em 2 de fevereiro de 1973. Desde então, desenvolve inúmeros projetos sociais no município e região. Este é o sexto terreiro tombado pelo Ipac em apenas dois anos. Já passaram pelo mesmo processo os terreiros de São Jorge Filho da Goméia, Pilão de Prata, Ilê Axé Oxumarê, em Salvador; e Ilê Axé Opô Aganju e Ilê Axé Ajagunã, em Lauro de Freitas. O Ilê Axé Alabaxé, agora, é reconhecido como bem imaterial da humanidade.
Além das autoridades, a solenidade contou com a presença de pais e filhos-de-santo, além de chefes de outros terreiros de candomblé do Recôncavo. Para Júlio Braga, do Ipac, o processo de tombamento de um terreiro envolve um extenso trabalho de pesquisa sociológica e patrimonial. Este tombamento, que demanda um grande e minucioso estudo e aparato técnico, faz parte da política de manutenção e tradição do culto religioso de raiz africana, destacou.
O secretário de Cultura e Turismo, Paulo Gaudenzi, garantiu que o tombamento do terreiro é o cumprimento de uma dívida com a cultura afro. É o dever do poder público, em resposta a essa dívida com a comunidade-de-santo, o tombamento desta casa, cuja história se confunde com a da Bahia, e para a preservação da religião e da cultura popular, afirmou Gaudenzi. Além da linhagem, outra razão para o tombamento são as obras assistenciais do terreiro.
O Terreiro Ilê Axé Alabaxé é uma referência religiosa, não só em Maragogipe (onde existem mais quatro terreiros, o que a coloca na posição de um autêntico celeiro cultural do candomblé), mas em todo o Recôncavo. O terreiro ocupa um espaço privilegiado, de 8,7 hectares, com uma fonte de água natural e uma extensa área verde, no Alto da Bela Vista, no bairro das Palmeiras. Seu tombamento é fruto do árduo trabalho do babalorixá e fundador do Alabaxé, Edson dos Santos, 59 anos, pai Edinho, que foi iniciado há 42 anos.
Para o babalorixá, foi a coisa mais importante da vida religiosa dele, como pai-de-santo. É o reconhecimento da Casa de Oxóssi, um legado para meus filhos, netos e bisnetos, para o povo-de-santo, não só de Maragogipe como de toda a Bahia. É a coisa mais importante que aconteceu na minha vida nesses 42 anos à frente da criação do Ilê Axé Alabaxé, disse, emocionado.
ACOLHIMENTO Além de funcionar como uma verdadeira casa de acolhimento da região, o terreiro Ilê Axé Alabaxé desenvolve vários projetos sociais, que inclui cursos de cânticos e música, aulas de capoeira e iorubá, ministrado, inclusive, a pessoas de outros terreiros de candomblé. Nossa casa é franqueada a todas as pessoas, independentemente de cor, sexo, raça, religião, classe social ou credo político, explicou o babalorixá, que também acalenta o sonho de construir uma creche e um lar para idosos.
Edson dos Santos foi iniciado no candomblé aos 17 anos, em 2 de fevereiro de 1964, pelo babalorixá Lício, do Ilê Jitundê, de São Francisco. Lício é neto-de-santo de Miguel Arcanjo, do Ilê Amoraxó, e filho-de-santo de Manuel Rufino de Oxum, um dos mais respeitados da Bahia. Tornou-se babalorixá em 1971, quando adotou o nome de Pai Edinho, e tem, atualmente, mais de 300 filhos-de-santo espalhados pelo interior da Bahia, vários Estados brasileiros e também no exterior.