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Ipac tomba terreiro em Maragogipe

Publicado quinta-feira, 30 de março de 2006 às 00:00 h | Autor: JORNAL A TARDE

Fundado em 1973, o Ilê Axé Alabaxé é o sexto templo tombado como patrimônio cultural na Bahia em dois anos



CRISTINA SANTOS



MARAGOGIPE (DA SUCURSAL RECÔNCAVO) –
Os atabaques tocaram, na manhã de ontem, no terreiro de candomblé Ilê Axé Alabaxé, em Maragogipe, no Recôncavo baiano, para comemorar o tombamento da casa como patrimônio artístico e cultural da Bahia. Sob as bênçãos de Oxóssi, orixá que rege a casa, às 11 horas em ponto o povo-de-santo, vestido de branco, recebeu com cânticos e palmas a decisão, que foi oficializada pelo secretário da Cultura e Turismo do Estado (SCT), Paulo Gaudenzi, e Júlio Santana Braga, diretor-geral do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac).



O terreiro, de origem ketu, foi fundado pelo babalorixá Edson dos Santos, 59 anos, o Pai Edinho, em 2 de fevereiro de 1973. Desde então, desenvolve inúmeros projetos sociais no município e região. Este é o sexto terreiro tombado pelo Ipac em apenas dois anos. Já passaram pelo mesmo processo os terreiros de São Jorge Filho da Goméia, Pilão de Prata, Ilê Axé Oxumarê, em Salvador; e Ilê Axé Opô Aganju e Ilê Axé Ajagunã, em Lauro de Freitas. O Ilê Axé Alabaxé, agora, é reconhecido como bem imaterial da humanidade.



Além das autoridades, a solenidade contou com a presença de pais e filhos-de-santo, além de chefes de outros terreiros de candomblé do Recôncavo. Para Júlio Braga, do Ipac, o processo de tombamento de um terreiro envolve um extenso trabalho de pesquisa sociológica e patrimonial. “Este tombamento, que demanda um grande e minucioso estudo e aparato técnico, faz parte da política de manutenção e tradição do culto religioso de raiz africana”, destacou.



O secretário de Cultura e Turismo, Paulo Gaudenzi, garantiu que o tombamento do terreiro é o cumprimento de uma dívida com a cultura afro. “É o dever do poder público, em resposta a essa dívida com a comunidade-de-santo, o tombamento desta casa, cuja história se confunde com a da Bahia, e para a preservação da religião e da cultura popular”, afirmou Gaudenzi. Além da linhagem, outra razão para o tombamento são as obras assistenciais do terreiro.



O Terreiro Ilê Axé Alabaxé é uma referência religiosa, não só em Maragogipe (onde existem mais quatro terreiros, o que a coloca na posição de um autêntico celeiro cultural do candomblé), mas em todo o Recôncavo. O terreiro ocupa um espaço privilegiado, de 8,7 hectares, com uma fonte de água natural e uma extensa área verde, no Alto da Bela Vista, no bairro das Palmeiras. Seu tombamento é fruto do árduo trabalho do babalorixá e fundador do Alabaxé, Edson dos Santos, 59 anos, pai Edinho, que foi iniciado há 42 anos.



Para o babalorixá, foi a coisa mais importante da vida religiosa dele, como pai-de-santo. “É o reconhecimento da Casa de Oxóssi, um legado para meus filhos, netos e bisnetos, para o povo-de-santo, não só de Maragogipe como de toda a Bahia. É a coisa mais importante que aconteceu na minha vida nesses 42 anos à frente da criação do Ilê Axé Alabaxé”, disse, emocionado.



ACOLHIMENTO – Além de funcionar como uma verdadeira casa de acolhimento da região, o terreiro Ilê Axé Alabaxé desenvolve vários projetos sociais, que inclui cursos de cânticos e música, aulas de capoeira e iorubá, ministrado, inclusive, a pessoas de outros terreiros de candomblé. “Nossa casa é franqueada a todas as pessoas, independentemente de cor, sexo, raça, religião, classe social ou credo político”, explicou o babalorixá, que também acalenta o sonho de construir uma creche e um lar para idosos.



Edson dos Santos foi iniciado no candomblé aos 17 anos, em 2 de fevereiro de 1964, pelo babalorixá Lício, do Ilê Jitundê, de São Francisco. Lício é neto-de-santo de Miguel Arcanjo, do Ilê Amoraxó, e filho-de-santo de Manuel Rufino de Oxum, um dos mais respeitados da Bahia. Tornou-se babalorixá em 1971, quando adotou o nome de Pai Edinho, e tem, atualmente, mais de 300 filhos-de-santo espalhados pelo interior da Bahia, vários Estados brasileiros e também no exterior.



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