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Gestores percorrem o Edifício Caramuru

Publicado quinta-feira, 15 de maio de 2008 às 23:13 h | Atualizado em 15/05/2008, 23:19 | Autor: Mary Weinstein, do A TARDE

Gestores dos governos estadual e municipal foram visitar o Edifício Caramuru, premiado na Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, hoje degradado. Eles subiram as escadas até o 10º andar, pisaram em escombros e se debruçaram nas janelas para ver os suportes dos brises soleil de alumínio (protetores de sol), que foram roubados. Foi a primeira vez que representantes do Estado – que tombou o imóvel – entraram nele. O secretário de Cultura, Márcio Meirelles, achou o prédio “lindo”.

“Tem que ter uma avaliação, há ferragens expostas e infiltrações”, disse Meirelles, depois de comprovar a falta do jardim de Burle Max, na cobertura, e de esculturas de Mário Cravo Jr., no térreo. Desde que o Ed. Caramuru, na esquina da Av. Estados Unidos com a Rua da Grécia (Comércio), foi tombado provisoriamente – junto com os edifícios A TARDE, Dourado, Oceania e Hospital Aristides Maltez – há três meses, várias tentativas de interferência foram feitas para reverter o processo, que ainda passará pelo Conselho de Cultura. Em condições normais, o tombamento provisório levaria ao definitivo.

Ofícios foram disparados para secretários do Estado na esperança de que eles conversassem com o governador. Os apelos davam conta da compra do prédio pelo grupo espanhol Single Home, que, com o tombamento, não poderá demolir o Caramuru para construir um hotel de 13 andares. Nesse caso, o contrato de compra e venda, já assinado, seria desfeito, anulando o negócio de R$ 4,5 milhões. Para o dono do imóvel, José Tavares, o prejuízo “seria incalculável”.

Meirelles disse que não conversou com Jaques Wagner sobre o Caramuru. Mas ele estava presente quando o governador discorreu, há duas semanas, na Governadoria, ao saber que os espanhóis se retirariam. “É um processo que está no Ipac (Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural). Pessoalmente, acho muito precipitado. Não me lembro do prédio”, disse Wagner.

O governador não confirmou ter recebido as informações dos secretários contatados por gestores municipais empenhados na revitalização do Comércio. E tentou esfriar a temperatura do que poderá culminar com a desistência dos empreendedores. “Eu sempre repito: não diga que não pode e, sim, como pode. O Caramuru, eu não sei se é importante. Não é uma referência, pelo que me conste”, afirmou Wagner. E seguiu: “Há um grau de subjetividade nessas coisas. Não funciono por meio de ameaça. Sou de compor posições. Precisamos parar com essa intocabilidade de não derrubar as coisas. A gente vê como é na Europa”.

Márcio Meirelles declarou que o Estado não pode arcar com uma restauração no edifício, que é um dos principais exemplares da arquitetura moderna filiada à corrente carioca em Salvador. Ao ser questionado se haveria condições de cumprir a lei, exigindo que o proprietário arque com a conservação do que lhe pertence, o secretário disse que essa não tem sido a prática na Bahia. José Tavares disse que a culpa pela degradação do edifício que possui há 18 anos, onde funcionou o Banco Itaú, é do Estado, que não garantiu a proteção de sua propriedade contra a ação de depredadores. Contou que chegou a contratar vigilantes e a colocar cachorros pit bulls para defender o imóvel.

O diretor do Ipac, Frederico Mendonça, mandará fazer uma vistoria, que ainda não tinha sido feita no edifício. O secretário municipal de Relações Internacionais, Leonel Leal, afirmou que aquele encontro era um diálogo em busca de uma solução para a cidade. O coordenador do Escritório de Revitalização do Comércio, Marcus Cidreira, agradeceu o interesse de Meirelles. “Nenhum investidor recuperaria o prédio. Como se tomba sem conhecer o imóvel?”, questionou.

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