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Emoção e história nos 85 anos do rádio

Publicado sábado, 24 de novembro de 2007 às 19:03 h | Autor: Gabriel Carvalho, do A TARDE On Line

Aos 85 anos, ele continua enxuto, forte, falando gírias e ainda desperta a paixão ou o ódio de diversas pessoas em todo o mundo. Homens, mulheres, idosos, jovens e até crianças se rendem aos encantos do rádio seja em casa, no trabalho, na rua ou no caos do trânsito. Estudos do Instituto Ipsos Marplan, especializado em mídia, mostram que o veículo é confiável para 75% do público. Além disso, a pesquisa sugere também que o rádio está presente em 98% dos domicílios brasileiros, 23 pontos percentuais a mais que a TV.

Desde a primeira transmissão em 7 de setembro de 1922 – data que marcava o primeiro centenário da independência do Brasil – diversos nomes foram imortalizados pelas ondas do rádio, fossem elas curtas ou médias. Na Bahia, ainda hoje, a história do rádio tem personagens marcantes como o jornalista, radialista e pesquisador Perfilino Neto, que começou a vida profissional há exatos 48 anos, na Rádio Cultura da Bahia. 

Naquela época, conta Perfilino, muitos anunciavam o fim da mídia com a chegada da televisão. “Isso volta a acontecer agora com a internet, onde os boatos decretam a morte do rádio. Isso jamais acontecerá porque ele é imbatível”, defende. O radialista diz ainda que a convergência de mídias (Rádio, TV, Internet, Celular) vai mudar ainda mais o comportamento das novas gerações, mas faz uma ressalva: “O rádio ainda continuará a ser o único meio que funciona em tempo real e tem a maior acessibilidade”, prevê.

Dentro da nova concepção de convergência de mídia atua a A TARDE FM, que tem 26 anos de história e mudou seu posicionamento estratégico em 2006. “A emissora passou de uma linha popular para adotar um mix de música de qualidade com informação e variedades”, informa o gestor da rádio, Leleco Junior. Segundo ele, a atual composição é fruto de uma pesquisa encomendada junto ao Ibope, onde o ouvinte elegeu o que queria dentro da programação. “Entre os destaques estão a participações de Nelson Mota, Alexandre Garcia, o A TARDE Notícias que reúne uma equipe de 26 jornalistas e o melhor da música nacional e internacional”, completa.

No cenário nacional, o compositor Ary Barroso foi um dos principais ícones das transmissões esportivas nos anos 30 e 40 do século passado. Eron Dominguez também fez história na comunicação radiofônica. Ele veiculou diversas notícias alegres e tristes nos microfones do lendário Repórter Esso – programa de rádio que fez sucesso nas décadas de 40 e 50 – como o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945 e o suicídio do presidente Getúlio Vargas em 54.

No universo musical e nos programas transmitidos ao vivo, os brasileiros acompanharam personalidades como os cantores Nelson Gonçalves, Luiz Gonzaga, Orlando Silva e os baianos Walter Levita e Myriam Tereza, uma das últimas remanescentes da ‘Era de Ouro’ do rádio no Estado.

Para Perfilino Neto, o rádio faz tanto sucesso porque é o canal que encurta a distância entre os ‘figurões’ e o povo. “Hitler e Getúlio Vargas são os maiores exemplos disso”, afirma. Na Bahia, muitos políticos também recorrem ao meio de comunicação, uma vez que deputados, vereadores e senadores sempre participam de programas com apelo popular. Os exemplos mais recentes que sugerem a força do veículo são os do governador Jaques Wagner, que tem uma espécie de talk show semanal e seu antecessor Paulo Souto que faz comentários, duas vezes por semana, em uma emissora da capital.

Pioneira - A primeira emissora a levar música e informação aos ouvintes baianos foi a Radio Sociedade da Bahia em 24 de março de 1924. As transmissões em AM começaram depois que três empresários compraram um pequeno aparelho de 5KW de potência, e o instalaram em um pequeno edifício localizado na Avenida Sete de Setembro, no Centro de Salvador. Hoje, a Rádio Sociedade opera com 80KW e é considerada uma das principais emissoras AM do país.

Atualmente, segundo informações da Associação Baiana das Empresas de Rádio e Televisão (Abart), a Bahia possui aproximadamente 300 emissoras AM e FM. Dessas, cerca de 25% são comunitárias.

Em Salvador, os estudiosos já alertam para um fenômeno que pode ser notado, inclusive, por leigos. Nos últimos quatro anos, o número de emissoras que transmitem algum tipo de programa jornalístico ou informativo cresceu progressivamente. Em 2003, de acordo com a Abart, apenas duas FM’s tinham em sua grade este tipo de atração. Hoje, sete das 14 emissoras da capital apresentam jornais, informes ou algum folhetim de variedades.

A abertura de afiliadas pertencentes a grupos de comunicação do Sudeste do país e a readequação de posicionamento de algumas emissoras contribuíram bastante para isso. Para o professor e especialista em Rádio e Televisão pela Universidade de Brasília, Aldemir Venceslau, ainda falta estrutura às emissoras. “Há muitos lugares em que o rádio é feito por telefone. Falta repórter na rua fazendo ao vivo”, pontua.

Problemas - Mesmo com a grande audiência, conservada na passagem para o século XXI, o rádio ainda enfrenta algumas dificuldades como o baixo faturamento, principalmente em relação à televisão.

Os baixos salários também fazem parte do cotidiano dos profissionais da radiodifusão. O coordenador do Sindicato dos Trabalhadores em Rádio, Televisão e Publicidade, (Sinterp), Álvaro Assunção, informa que metade dos sete mil profissionais do setor no Estado tem remuneração equivalente ao piso da categoria que é de R$ 750 em Salvador e R$ 420 no interior. Outra dificuldade apontada por Assunção é a terceirização dos serviços nas emissoras, mais conhecida como arrendamento de horário. “O trabalhador perde porque fica sem receber diversos benefícios, além de não ter direitos trabalhistas e, na maioria das vezes, não recolher os devidos impostos”.

O presidente da Associação Baiana das Emissoras de Rádio e Televisão (Abart), Fernando Henrique Batista Chaves, acredita que as rádios piratas são hoje os principais entraves do setor. “Ao contrário das comunitárias, que são regulamentadas, essas estações pegam os nossos clientes oferecendo preços baixíssimos para os anunciantes. Isso tem provocado quebra de empresas e muitas demissões”.

Na Bahia, segundo a Associação de Rádios Alternativas e Comunitárias, existem duas mil emissoras em funcionamento e dessas apenas 70 estão regularizadas. De acordo com informações do Ministério das Comunicações, há nove mil processos para análise de regulamentação de rádios comunitárias em todo o país.

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