BAHIA
Após perder barco, pescador recebe doação de R$ 30 mil para comprar um novo

Por Bruno Luiz

Há 40 anos, Durinho vive do mar. Lá foi forjado na lida diária da qual tira seu sustento. Lá se fez gente. Mas esse mesmo mar lhe provocou há quase seis meses uma tragédia pessoal. Fortes ondas provocadas pelo mau tempo fizeram Canção, seu barco, ser partido ao meio, em 13 de julho deste ano. Durinho havia perdido ali a principal forma de exercer seu ofício de pescador, único que desenvolveu a vida toda.
Mas neste sábado, 21, ele ganhou oportunidade de voltar aos mares. Uma campanha de arrecadação que envolveu até gente de fora do país arrecadou R$ 16 mil para que ele possa comprar uma nova embarcação. Assim, garantiu que terá novamente seu instrumento de trabalho e também a realização do Presente Ecológico de Iemanjá.
Era no antigo barco dele que as oferendas ecológicas eram feitas à Rainha do Mar. A festa, que acontece há seis anos na comunidade do Solar do Unhão, tem sua sétima edição marcada para 26 de janeiro de 2020. Durinho garante que a nova embarcação estará pronta até lá.
Neste sábado, o pescador recebeu um cheque de R$ 12 mil das mãos do estudante baiano Pedro Portela, de 16 anos, que mobilizou sua comunidade na escola Columbus High School, em Miami, nos Estados Unidos, em torno da causa, ajudando na arrecadação do dinheiro. Além disso, Portela entregou ao pescador materiais de pesca que arrecadou nos EUA, como linhas de nylon, anzol, iscas artificiais e varas de pescar. O pescador era alegria e gratidão: “Gente que eu nunca vi veio me ajudar, tá vendo?”.
A campanha teve como um dos principais articuladores o ativista Marcos Rezende, que tem um trabalho social dentro da comunidade do Solar do Unhão, onde Gerson Bonfim, ou Durinho, mora há 57 anos, desde que nasceu. Ao saber do naufrágio do barco, o líder do Coletivo das Entidades Negras (CEN) se reuniu com amigos e ativistas para arrecadar doações para compra do novo barco. Conseguiram obter R$ 14 mil, mas o dinheiro não era suficiente. Foi aí que entrou Pedro Portela.
"Meu pai me contou a história e perguntou o que poderíamos fazer. Eu mobilizei minha comunidade. Lá na escola, são muitos comuns os projetos de serviços, como se fosse uma forma de nós voltarmos para nossas origens", explica o adolescente.
Rezende destaca que o barco de Durinho não era usado apenas por ele, mas por toda a comunidade e que, por isso, a compra de um novo é uma conquista para os moradores. "O barco é a vida, o mar é o coração dessa gente. O barco de Durinho é comunitário. Muitos não têm barco grande e, quando precisam pegar um peixe grande, usam o barco dele", conta.
Além dos 26 mil arrecadados, o pescador conseguiu mais R$ 4 mil, através de uma vaquinha feita por alunos da Escola Pan Americana da Bahia. Com isso, ele tem os R$ 30 mil necessários para comprar o novo barco. Durinho já pagou uma parte da embarcação, que deve chegar nos próximos 15 dias.
Com Canção, que conseguia levar até 11 tripulantes, ele conseguia ganhar uma média de R$ 3,5 mil mensais, tanto com os peixes que pesca quanto com o aluguel do barco. A embarcação era famosa na comunidade. Já transportou nomes como a cantora Anitta, que, em janeiro deste ano, gravou na Gamboa o clipe de “Bola, Rebola”.
Ele não esquece do dia em que seu barco foi destruído. Conta que assistia a um programa de televisão, por volta das 11h30, quando ouviu gritos de alerta de vizinhos. “Eu saí para ver. Quando fui pegar o barco, ele já tinha partido ao meio. Com as chuvas, madeiras de um píer que tem aqui perto se desprenderam e bateram no barco. Tenho esse barco há mais de 10 anos. Em menos de 15 minutos, perdi tudo”, relembra. Desde o naufrágio, Durinho tem contado com a solidariedade para continuar se sustentando, já que faz a pesca em lanchas cedidas por conhecidos.
Mas agora ele espera a chegada de sua nova embarcação, que já tem até nome: Amigo Pé Enxuto. Ele não concorda com esta última parte da alcunha, mas vai ter que usá-la por livre e espontânea pressão dos amigos do Solar do Unhão. O pé enxuto vem do fato de que Durinho evita ao máximo molhar os pés quando está pescando. Para o pescador, Papai Noel mudou de nome este ano. Foi Iemanjá que trouxe seu presente antecipado de Natal.
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