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"Não há demanda para abrir consulado aqui"

Publicado quarta-feira, 24 de agosto de 2016 às 23:40 h | Autor: Franco Adailton
James Story
James Story -

O cônsul dos EUA no Brasil, James Story, esteve em Salvador na comemoração dos 75 anos da Associação Cultural Brasil-Estados Unidos (Acbeu) e, antes de embarcar para o Rio de Janeiro, nesta quarta-feira, 24, falou com exclusividade para A TARDE.

Além das atividades culturais, qual a relação dos EUA com o 3º setor na Bahia?

O que queremos fazer na Bahia é aprofundar parcerias. Visitei o Olodum e o Instituto de Mídia Étnica [que trabalha a inserção do jovem negro no mercado de trabalho], entidades importantes. No instituto, nossa intenção é divulgar  informações para falar de temas ligados ao desenvolvimento e direitos humanos, importantes para os dois países, como raça, empreendedorismo, como utilizar a informação por meio da internet, acessibilidade. Na Acbeu temos um projeto de bolsas de estudos para alunos de escolas públicas por dois anos e outro com bolsas para estudantes que integram  programas sociais. Queremos dar oportunidade a pessoas sem acesso ao inglês, o que, no século XXI, abre portas na vida.

Como o senhor avalia o ensino de inglês na escola pública?

Uma pessoa não aprende inglês de um dia para o outro, nem português. Morei em Brasília por dois anos, igualmente em São Paulo. Conheço bem o Brasil. Há projetos bons para o ensino de inglês no país. Por experiência própria, tivemos oportunidade de trazer palestrantes que ensinem inglês para desenvolver projetos nas escolas junto com diretores. Agora, uma dessas pessoas passará 10 meses no Espírito Santo, para formular o currículo de inglês para escolas públicas. Podemos fazer o mesmo na Bahia no ano que vem, em parceria com a Secretaria da Educação. Talvez até mais aprofundado. Para mim, o ensino de inglês está muito bom, mas, como tudo na vida, sempre devemos buscar fazer mais.

Os EUA têm planos de implantar um consulado na Bahia?

Eu sei que existe essa necessidade. Todo mundo me pergunta quando haverá um consulado aqui. Por enquanto, nosso plano é abrir em Belo Horizonte e em Porto Alegre. Há sete, oito anos, fizemos uma pesquisa sobre a demanda por serviços do consulado, cuja função não é apenas de emitir vistos, mas desenvolver outros trabalhos em tecnologia, informação, comércio,  outros aspectos da relação bilateral. Segundo a pesquisa, a demanda maior para emissão de vistos estava nas duas cidades que receberão consulados. Aqui na Bahia ainda é pouca para justificar a abertura. Não significa que não estejamos atentos. É chato esse trâmite de viajar para outras cidades, mas não podemos colocar consulados em todas as capitais. Como terceira maior capital,  temos condições de fazê-lo em Salvador, quando tivermos essa demanda para os serviços.

Seguindo esse critério, Recife, então, tem mais demanda que Salvador?

O caso de Recife é peculiar porque é muito antigo. Em Porto Alegre, chegamos a fechar um consulado em 1944 e, somente agora, estamos reabrindo para cuidar de questões do extremo sul. Não tenho como detalhar os dados da demanda apontados pela pesquisa, mas a implantação de consulados leva tempo. Os trâmites são complicados. Desde 1972 temos pensado em mudar o endereço do Consulado Geral do Rio de Janeiro, mas só este ano encontramos um terreno. São questões que levam tempo. Seguiremos  estudando o caso daqui.

Durante o tempo em que o senhor está no Brasil já foi possível estabelecer uma associação dos conflitos entre a polícia e as comunidades negras nos dois países?

Eu costumo dizer que todos enfrentamos momentos difíceis na vida. O importante, que deve sempre ser lembrado, é que devemos trabalhar em conjunto. Temos que dialogar, sentar à mesa, procurar oportunidades de entendimento de uma forma mais profunda. Eu faço esses encontros com o Mídia Étnica, com o Olodum, com outras entidades, para entender o ponto de vista deles.

Na política internacional, como o senhor avalia a ofensiva terrorista no mundo?

Já passamos por décadas mais difíceis, como no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, quando o terrorismo começou a se destacar. Estamos convivendo com dois fatores: primeiro, que a informação chega mais rápido do que em qualquer momento na história. Por isso, temos a impressão de que está acontecendo mais do que realmente ocorre. A fome pela informação é mais rápida. Por isso temos que pensar em como nos sentimos. Segundo: estamos vivendo um momento mais seguro do que em outras épocas. A expectativa de vida na África, por exemplo, sofreu um aumento. Há mais escolaridade. Mais acesso  à educação. Não temos guerra na Europa. Quer dizer, grandes guerras. É um momento interessante, no qual a gente tem acesso a comida, educação, crescimento. Mas enfrentamos também o fenômeno do terrorismo, que deve ser encarado em conjunto pela comunidade internacional. Temos que entender esse movimento.

Oficialmente, nos EUA, o presidente Obama não se pronunciou sobre o momento político da troca de comando no Brasil. Essa vai ser a postura final? Ou aguardaremos os trâmites do impeachment? Ou o país vai se manter à parte desse processo?

Cada país tem seu processo. É uma questão que vocês terão que lidar. Éramos, somos e seremos parceiros do Brasil, sempre. Temos uma relação bilateral profunda e muito aberta. Tocamos em muitos temas. E eu sei que isso não vai mudar.

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