Razão versus emoção
O sedã costuma ser aquele tipo de carro para quem precisa de espaço interno e amplo porta-malas. As versões compactas mais equipadas, como as destes sedãs comparados – Renault Logan e Fiat Cronos –, custam um pouco a menos do que os SUVs de entrada e geralmente são um upgrade de famílias que tinham um hatch.
No mercado, tanto o Renault quanto o Fiat estão naquela faixa intermediária do segmento, liderado com muita folga por Chevrolet Prisma (agora Onix Plus, que tem 28,1% de market share) e bem lá atrás o Ford Ka (16,8%). Logan abocanha 8,3% dessa categoria, e o Cronos, 7,5%.
Mas uma curiosidade desses dois sedãs tem a ver com suas finalidades: do total de 20.657 unidades do Logan vendidas de janeiro a outubro de 2019, 17.772 (86%) foram para vendas diretas (aqui leia-se locadoras e motoristas de aplicativo) e apenas 2.885 (14%) para o varejo, ao passo que dos 18.799 emplacamentos do Cronos, de janeiro a outubro, 13.365 (71%) vieram do varejo e somente 5.434 (29%) das vendas diretas.
Ao dirigir os dois carros fica claro: enquanto o Renault é um carro mais racional, o Cronos, na versão mais esportiva, invoca a emoção. A decisão, contudo, pode pesar no bolso.
O Logan avaliado por A TARDE Autos é a versão Iconic CVT, com motor 1.6 de até 118 cv, com razoável torque de 16 kgfm, o que lhe confere força, auxiliado nas respostas rápidas do bom câmbio CVT (herdado da Nissan), principalmente na cidade. Na estrada, ao subir a rotação em ultrapassagens, por exemplo, o ruído pode incomodar.
Em relação à geração anterior, o sedã da Renault está mais alto: ele foi elevado em 4,5 cm e ficou na altura do Stepway, o que ajuda a enfrentar o castigado asfalto e manter um razoável conforto diante das irregularidades. A direção eletro-hidráulica desatualizada sobrecarrega as manobras, que poderiam ficar mais precisas com uma direção de assistência elétrica.
Na parte externa o que mudou mais foi a dianteira. O Logan recebeu novos para-choques, grade e faróis com assinatura de LED. Olhando o carro de perfil, as rodas de 16 polegadas parecem pequenas e distantes das caixas, e isso é o que mais se destaca na versão 2020. Muitos podem não gostar, mas esse Renault deixou aquele estilo mais insosso para ganhar uma impressão de maior robustez.
Por dentro, o Logan mantém o ótimo espaço e deu um salto qualitativo no acabamento: a cabine está mais confortável e os plásticos, mesmo em abundância, oferecem textura aconchegante. Os bancos de melhor ergonomia, com revestimento de couro e pespontos são elegantes e agradáveis. O porta-malas acomoda 510 litros, comparável ao de alguns sedãs médios e maior que dos SUVs compactos.
Cronos HGT
O Fiat Cronos ganhou recentemente essa versão HGT com motor 1.8 16V acoplado ao câmbio automático de seis marchas, que rende até 139 cv. O torque com etanol é de 19,3 kgfm.
No visual, diferencia-se pelo estilo mais apurado na grade, rodas de 17”, emblemas pintados em preto e um spoiler maior sobre a tampa do bagageiro, que podem parecer sutis mas lhe conferem mais agressividade.
Mas não se engane pelo visual. Em movimento, o sedã da Fiat é menos arisco do que sugere, embora adequado à proposta urbana: tem ótimo acerto de suspensão, é confortável e ágil. Seu motor é idêntico às demais versões 1.8, porém exige mais do acelerador para ganhar desenvoltura. O volante de ótima empunhadura e a direção assistência elétrica completam a boa dirigibilidade do sedã.
Por dentro, o Cronos entrega um acabamento de alta qualidade, texturas confortáveis e peças bem encaixadas. Teto e colunas também vêm na cor preta. No espaço é amplo: tanto para os passageiros do banco traseiro como no bagageiro de 525 litros.
A escolha
A comparação entre os dois sedãs pode nivelá-los em tamanho, porta-malas com leve vantagem ao Fiat e o conforto dos câmbios automáticos. A partir daí, são duas propostas distintas.
Enquanto o Renault ficou mais moderno, ganhou mais conforto e upgrade na segurança (dois air bags laterais, cinto de três pontos para todos e controle de estabilidade – esses dois últimos de série no Fiat), a nova versão do Cronos, embora entregue menos do que sugere, é um sedã familiar sem exageros no visual e mais bonito de ser visto, além de confortável. Além disso, o Cronos tem uma pegada esportiva mais acentuada do que a elevação do Logan proporciona.
E isso tem seu preço: enquanto o Renault Logan CVT Iconic sai por R$ 72.090, seu concorrente Fiat Cronos HGT 1.8 automático custa R$ 78.490.
Nenhum dos dois se destaca pelo consumo: enquanto o Logan é ligeiramente melhor nesse quesito ao rodar na cidade, tanto com etanol quanto gasolina, o Fiat leva uma pequena vantagem na estrada.
Na lista de equipamentos, o Logan leva vantagem na câmera de estacionamento traseiro (opcional no Fiat, R$ 700), bancos de couro (R$ 1.500 a mais no rival), limpador automático de para-brisa e acendimento automático (em pacote no Cronos).
O Cronos, por sua vez, tem monitor de pressão dos pneus, ajuste de profundidade do volante e opção de câmbio sequencial por aletas atrás do volante (no Renault apenas na alavanca).
Para quem valoriza os detalhes do interior, o Renault destoa pelo projeto simples do painel enquanto o Fiat conta com conta-giros e velocímetro analógicos de design mais moderno, separados por uma tela de sete polegadas com informações do computador de bordo. O mesmo do ar-condicionado: o do Fiat é digital e mais preciso do que o de seletor de temperatura do Renault.
O problema do Fiat é que o visual esportivo lhe custa adicionais R$ 6.400 ou R$ 8.600 se for agregar os indispensáveis revestimento de couro nos bancos e câmera de ré, de série no Renault. No desempenho, o Cronos é superior, mas eles se equivalem ao rodar na cidade.