A bordo do Verona | A TARDE
Atarde > Autos

A bordo do Verona

Publicado quarta-feira, 17 de julho de 2019 às 11:57 h | Atualizado em 17/07/2019, 12:00 | Autor: Lúcia Camargo Nunes | Foto: Divulgação
Peixoto adquiriu seu Verona GLX 1.8 1990 em 1992, com pouco mais de 26 mil quilômetros
Peixoto adquiriu seu Verona GLX 1.8 1990 em 1992, com pouco mais de 26 mil quilômetros -

Um estudo recente da plataforma KBB Brasil, especializada em preços de veículos novos e usados, indica que os brasileiros rodam, em média, 12.900 km por ano. A empresa se baseou em mais de um milhão de anúncios de seu banco de dados. Na Bahia, essa média é próxima, fica em 12.500 km, segundo esse levantamento. Especialistas de mercado avaliam que o brasileiro, também na média, troca de carro de três a cinco anos.

Um engenheiro de São Bernardo do Campo, em São Paulo, superou as estatísticas e o perfil médio dos motoristas. Com seu Ford Verona 1990 ele registrou em maio passado a marca de um milhão de quilômetros rodados. A façanha do professor Creso de Franco Peixoto, do Centro Universitário FEI, e que foi detalhadamente documentada, tinha a finalidade de apresentar a evolução dos custos de manutenção e troca de peças conforme o envelhecimento do veículo.

Peixoto adquiriu seu Verona GLX 1.8 1990 em 1992, com pouco mais de 26 mil km. Em maio de 2019 ele chegou a 1.026.433 quilômetros. Durante esses 27 anos de uso, o engenheiro fez anotações minuciosas de todos os custos em planilha eletrônica, acompanhando vida útil de peças e insumos. Entre as estratégias, ele sempre levou o carro à mesma oficina mecânica para manutenção preventiva (exceto em emergências) e sempre que possível utilizou peças originais.

Mais velho, mais caro?

Os custos levaram em conta ainda a depreciação estimada do veículo, impostos, seguro, estacionamentos e pedágios. O objetivo era saber se o custo de manutenção subia demais com o envelhecimento do carro. "É o que se diz por aí: ficar muito tempo com o mesmo carro deixa ele muito mais caro", argumenta o engenheiro.

Para facilitar a pesquisa, os valores foram convertidos em dólares ao longo de todo o período. Assim, ele chegou ao total de US$ 141.964 do que foi gasto com o Verona entre setembro de 1992 e maio de 2019. Esse montante significa um custo de US$ 0,14 por quilômetro rodado.

Quando comprou o carro ele não tinha essa pesquisa em mente. "À medida que centenas e centenas de quilômetros foram passando eu vi que poderia fazer uma pesquisa. Quando chegou a meio milhão de quilômetros, o monobloco trincou, que é uma falência estrutural. Usamos técnica de retenção de trinca para reparo e desse instante para a frente os objetivos específicos da pesquisa ampliaram. Pela primeira vez passou pela minha cabeça tentar passar de um milhão de quilômetros, que não é tão raro. Já há história de um americano que bateu quatro milhões", conta.

Peixoto abrange em sua pesquisa outros cinco carros. Desses, ele cita outros dois exemplos, de um modelo mais recente 1.0 que tem custo de US$ 0,23 por quilômetro rodado. Outro, mais antigo, mas mais luxuoso, custa US$ 0,34 por quilômetro rodado. Assim, ele conclui: "Ao envelhecer, o carro tende a não ter custos tão maiores".

Diante disso, ele diz ter uma conclusão parcial de que trocar de carro com mais frequência para gastar menos com manutenção não é verdade. "A realidade é que com um carro novo ou menos usado, gasta-se menos com manutenção, mas ele deprecia mais", pondera.

Contudo, ele ressalta a importância da melhor engenharia de carros mais novos e um quesito que os brasileiros nem sempre levam em consideração: o risco de vida do usuário. "O ideal ao trocar um carro não é pensar em manutenção, mas priorizar a segurança. Quando um carro envelhece, ele perde em tecnologia e segurança". Por isso, ele reforça, o próximo veículo precisa ser mais seguro. Os novos, atualmente, saem de fábrica obrigatoriamente com air bags frontais e freios ABS.

Manutenção e consumo

No quesito manutenção, além das trocas de peças de reposição, o professor Peixoto conta que retificou o motor AP 1.8 movido a etanol duas vezes. A primeira com 247 mil quilômetros e a segunda com pouco mais de 750 mil, o que, para ele, está dentro da tendência de durabilidade. O câmbio é original. Para algumas peças ele "garimpa", caso do carburador, ao encontrar uma empresa em São Paulo que ainda possui modelos do Verona.

O consumo, ele ressalta, melhorou conforme os anos. Em sua pesquisa, ele divide o tempo de uso de seu Verona em três fases: a primeira de 10 anos, predominantemente em uso urbano, o carro fazia média de 9,5 km/l. Nos 10 anos seguintes, ele usou 90% do tempo o carro em estradas sem pedágio e registrou média de 10 km/l. A terceira fase, em sete anos e rodando 90% do tempo em estradas com pedágio (ou seja, em melhores condições de rodagem), ele marca 11 km/l.

A partir desses registros, o engenheiro sugere aos motoristas uma conta que fez ao longo de sua pesquisa. "A cada R$ 100 gastos com combustível, o dono do carro deve guardar R$ 87 para sua manutenção".

Após atingir o um milhão de quilômetros rodados com seu Verona, o professor não pensa em se desfazer do bem. "Pretendo continuar rodando com ele, mesmo sem meta, mas continuo a marcar tudo o que faço com ele. Chegar a um milhão não é difícil, mas anotar tudo é raro", brinca.

Mesmo diante de todos os fatores, ele não recomenda os motoristas rodar tanto como fez com seu carro. "Não aconselho ninguém a fazer isso a não ser que seja um pesquisador".

Publicações relacionadas