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Cresce a presença feminina no universo de motos

Brasil conta com 9.468.705 motociclistas do gênero feminino, alta de 69,5% em dez ano

Publicado quarta-feira, 13 de março de 2024 às 12:00 h | Autor: Núbia Cristina
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As mulheres conquistam maior representatividade no mercado de duas rodas, seja no papel de consumidoras ou ocupando postos de trabalho. O Brasil conta com 9.468.705 motociclistas do gênero feminino, o que representa um crescimento de 69,5% em dez anos. Em 2014, esse número era de 5.586.855 mulheres, de acordo com dados da Senatran/IBGE (Secretaria Nacional de Trânsito/Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), compilados e divulgados pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo).

Os três estados com maior número de mulheres habilitadas na categoria A, em termos porcentuais, são Rondônia (31,9%), Santa Catarina (27,6%) e Mato Grosso (24,6%). Em números absolutos, a liderança é de São Paulo, com 2.823.660 motociclistas. A Bahia ocupa o 20º lugar no ranking dos estados com maior número de mulheres habilitadas na categoria A, são 374.333 no total.

Perdeu o medo

A motociclista Camila Landim é supervisora do setor de pós-vendas em uma concessionária Yamaha na capital baiana. Ela começou a andar de moto há dois anos: primeiro na carona, há um ano passou a pilotar a máquina. “Eu tinha medo; lembro que uma vez fui forçada a pegar moto táxi para chegar rápido na maternidade, pois meu irmão estava nascendo, peguei com muito receio e muito medo. Isso foi em 2019, nunca havia passado pela minha cabeça ter uma moto”, conta.

“Mas comecei a trabalhar com motos em 2021 e me encantei com o universo duas rodas, fui perdendo o medo aos poucos, conforme eu andava na carona, até que decidi tirar a habilitação em 2022”.

Camila lembra que o processo da habilitação foi difícil. “Mas no final deu tudo certo. Quando estava no processo eu já sabia que queria comprar uma moto, então fui começando a me organizar financeiramente para conseguir. Detalhe: havia adquirido um carro popular em 2022 com meu irmão. Decidimos vender para eu dar entrada em uma moto para mim e ele investir em uma maior para ele”, explica.

Em março de 2023, Camila conseguiu a habilitação e comprou a scooter Yamaha Neo 125 cilindradas, automática, com a certeza de que fez boa escolha. “Pequena, leve, prática para o trânsito, passa tranquila pelos corredores, ótima para ganhar experiência e segurança no trânsito”. Ela usa a moto para trabalho (mora em Salvador e trabalha em Lauro de Freitas), lazer e viagens curtas. “Quero fazer viagens mais longas, e já penso em trocar a minha por um modelo maior”, adianta Camila.

“Tive muito medo no início, quando dava meu horário de ir trabalhar ou ir embora para casa, eu sentia um frio na barriga. Mas depois de um, dois meses, isso passou, afinal são praticamente 54 km rodados por dia”. “Para se sentir segura, não tem muito segredo: é a prática e a rotina, é encarar o trânsito com coragem e prudência”, ensina.

Ela não se arrepende de ter abandonado a ideia de comprar um carro, pelo contrário. “A manutenção da moto é muito mais barata, e o consumo de combustível também”, compara. “Outro detalhe: odeio perder tempo travada nos engarrafamentos, com a moto eu evito isso, ganho tempo”. “Investir em moto é perfeito para quem está querendo sair do transporte público, sem gastar tanto. Bom para quem está começando e quer seu primeiro veículo”.

Cuidadosa, Camila nunca se envolveu em acidentes de trânsito. Ela toma precauções também em relação à segurança. Não trafega em localidades pouco movimentadas ou perigosas e evita sair depois das 22h.

Personal trainer

A personal trainer Marina Araújo Vieira dá aulas particulares em condomínios, pela manhã, e trabalha em uma academia durante a tarde; sem a moto não conseguiria chegar a tempo em todos os compromissos. “Tirei minha habilitação em 2019 e só consegui comprar a moto em 2022. Quando comecei a andar com ela, tive muito medo, porque tinha passado um tempão sem pegar em moto. Procurei um profissional particular, para me dar aulas práticas no trânsito, foi aí que tive coragem”, conta.

Ela diz que sempre pensou em ter uma moto. “Sou muito apaixonada por moto desde criança, era um sonho antigo. Gosto da aventura, vento no rosto, das roupas, de tudo que envolve motocicletas”. Marina tem uma scooter Yamaha Nmax 160 e ganhou qualidade de vida ao comprar a moto. “Eu moro na Ribeira e trabalho na Graça, tinha de acordar 4h da manhã para dar aula às 6h. Agora, saio de casa 20 minutos antes, fujo dos engarrafamentos, e, além da praticidade e rapidez, andar de moto é mais seguro que usar transporte público”. Em relação ao carro, Marina aponta a redução de custos como maior vantagem. Ela usa a moto para trabalho e lazer, mas ainda não se sente à vontade para viajar com a scooter. Para as mulheres que desejam andar de moto e sentem medo, Marina tem uma dica: “Faça aulas com um profissional competente e esteja aberta ao desafio”.

Produção e vendas de motos têm alta no bimestre

O crescimento do número de mulheres habilitadas reflete o avanço do segmento de duas rodas no Brasil nos últimos anos. As fabricantes de motocicletas instaladas no Polo Industrial de Manaus – PIM produziram 280.991 unidades no primeiro bimestre, volume 14,9% maior em relação aos dois primeiros meses de 2023, de acordo com dados da Abraciclo. Esse foi o melhor desempenho para o período em dez anos.

Em fevereiro, a produção também atingiu o melhor resultado dos últimos dez anos, com 139.767 motocicletas saindo das linhas de montagem. O resultado ainda é positivo na comparação com o mesmo mês do ano passado: alta de 14,8%.

“Observamos crescimento de quase 25% das vendas em janeiro e fevereiro de 2024, comparando ao mesmo período de 2023, apesar dos feriados do Carnaval”, explica o sócio diretor do Grupo Motofácil (Yamaha), Cláudio Cotrim. “No segundo bimestre 2024, aquela parte da população que faturou mais no verão investirá na aquisição de motocicletas, para ampliar seus negócios, ou para melhorar a sua mobilidade. Março é um mês com um número de vendas diferenciado, em relação a todo o ano”.

Já o diretor comercial do Grupo Motopema (Honda), Kidy Cordeiro, também aposta em crescimento. “Contamos com um incremento de 23% para o próximo bimestre no grupo. Já a Honda prevê uma alta nas vendas em torno de 10% para o ano de 2024”.

Na opinião de Cotrim, a mudança de hábitos da população, que passou a utilizar o delivery e o comércio eletrônico com intensidade, resultou em aumento da utilização das motos para entrega.“Além disso, a motocicleta é mais econômica em todos os sentidos: é um veículo com preço muito mais acessível, que pode transportar até duas pessoas com agilidade, segurança e rapidez, com baixíssimo consumo de combustível”, justifica o diretor do Grupo Motofácil. “O nosso principal cliente é aquele que não tolera mais o transporte público, devido à sua péssima qualidade no Brasil, insegurança e imprecisão. Com a soma do valor pago em um mês de passagens diárias, consegue-se pagar a parcela mensal de uma motocicleta”, compara. Ele cita ainda “a elevada discrepância com o preço dos automóveis, bem mais caros que as motos”.

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