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Consórcios de autos batem recorde

Setor contabilizou quase 8 milhões de participantes ativos em outubro

Publicado quarta-feira, 06 de dezembro de 2023 às 05:30 h | Autor: Núbia Cristina
Consórcio de autos: viável para quem tem restrições
Consórcio de autos: viável para quem tem restrições -

O alto custo do financiamento e o endividamento do consumidor são estímulos para o setor de consórcios no Brasil, que tem batido recordes em 2023. O setor de automotores, que incluem veículos leves, pesados e motocicletas, contabilizou um total de quase oito milhões de participantes ativos em outubro. Os créditos concedidos movimentaram R$ 53,64 bilhões, no acumulado de janeiro a outubro, a partir da totalização de consorciados contemplados, segundo a Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (Abac). Um volume significativo que contribuiu para o incremento das vendas de veículos.

Em outubro, no geral, incluindo todas as modalidades, os consórcios superaram a marca inédita de dez milhões de participantes ativos, e o setor de automotores representou 78,9% do recorde de 10,05 milhões de participantes ativos, de janeiro a outubro deste ano. “O sistema de consórcios sempre está em crescimento, desce 1960, quando foi criado. Mas esse crescimento recorde de 2023 não está atrelado a alta dos juros ou ao momento do mercado financeiro, tão somente, sendo isso apenas um dos fatores que determinam esse crescimento”, opina a especialista no setor, Ana Kelly Matos, gestora administrativa para Bahia e Sergipe do consórcio Canopus. 

“Ocorre que o sistema de consórcio é diverso e inclusivo, com flexibilidade em prazos, parcelas, abrangência de produtos, e por isso acaba incluindo um público gigantesco de pessoas físicas e jurídicas, de diversas classes sociais e segmentos de empresas”, afirma Ana Kelly. “O consórcio permite inclusão de quem está desatendido pelo sistema bancário, por restrição financeira, por exemplo”, completa.

Dicas úteis

O consórcio é um produto financeiro exclusivamente brasileiro. Um modelo criado para poupar em grupo e no qual todo mês uma pessoa é contemplada com a carta de crédito no valor adquirido. “É um sistema de autofinanciamento. Podemos compará-lo ao caixa entre amigos, tão popular na Bahia”, ilustra Ana Kelly. 

Entretanto, antes de aderir ao sistema para a compra do carro ou moto, é preciso pesquisar e ponderar. O consórcio não é indicado para quem precisa do veículo com urgência, “A carta fica apta para contemplação por lance ou sorteio; as cotas contempladas são determinadas em assembleias que ocorrem apenas uma vez por mês; a contemplação dependerá de sorteio e de estar entre os  maiores lances, que terá o número de entregas determinado pelo saldo do grupo a que se faz parte”, explica Ana Kelly. “Diante de tantos fatores, se a aquisição é urgente, para cumprir um contrato de transporte, por exemplo, não é indicado fazer um consórcio”, diz.

Quem tem pressa em pegar as chaves do carro ou da moto pode entrar em um consórcio e escolher um grupo em andamento, já maduro, e se preparar para dar um lance imediatamente, em assembleia. A dica é do gestor de consórcios do Grupo GNC e do Grupo Sanave, Ailson Lino, que atua no setor há 32 anos. “O cliente pode obter o carro no mesmo mês que assina o contrato, basta ingressar em grupo já em andamento. Então, ao escolher um grupo de 100 meses, com 50 meses de vida, por exemplo, as condições são melhores, porque não há tanta gente para dar lances e por isso os valores caem. Na medida que esse grupo vai envelhecendo, a cada mês a concorrência é menor, tem menos gente participando das contemplações, porque muitos bens já foram entregues”, explica. 

“Antes de ingressar, é preciso ver o histórico do grupo, a média dos valores dos lances ofertados nos últimos seis meses, escolher um grupo com lances mais baixos e com menor número de lances. Há grupos maduros com saldo em caixa que passam a entregar mais carros”, orienta. O industriário Carlos Augusto Oliveira é adepto do sistema de consórcio desde 2018, quando comprou um Creta, no total foram quatro veículos financiados por essa modalidade. Ele em geral escolhe grupos em andamento e sempre pesquisa o histórico do grupo antes de ingressar. 

“Outra dica é se organizar financeiramente para dar lances nos meses de fevereiro e março, porque são meses em que a concorrência está baixa: as pessoas gastam nas férias, Carnaval ou nas despesas escolares”, ensina. Oliveira também verifica a solidez da administradora, além dos valores da taxa de administração e outros custos embutidos. “Eu peço uma cópia do contrato para estudar cuidadosamente, antes de assinar”, diz.

Neste momento, ele planeja trocar seu carro por um Creta zero e não pensa em fazer financiamento. “Eu fiz simulação e não tenho condição de pagar uma prestação de R$ 3.400,00 por mês, em 48, 50, 60 meses. Impacto muito grande no orçamento, juros absurdos”. 

O assessor financeiro, Ed Santos, da Seja Finance Inteligência Financeira, já comprou carro e duas motos por consórcio. “Uma maneira acessível de pagar pelo bem, como não tinha pressa de receber, utilizava como poupança forçada. Para mim foi ótimo, porque fui sorteado na segunda parcela do veículo, em um contrato de 60 meses. Eu pagava uma parcela baixa e recebi de volta o fundo de reserva”, lembra. Ele afirma que as altas taxas de juros e as restrições ao crédito de muitos consumidores tornam o consórcio a alternativa viável. 

“Vamos supor que em um consórcio de 200 meses a taxa administrativa seja de 18%. Isso daria algo em torno de 0,09% ao mês ou 1,08% ao ano. No financiamento a taxa pode variar entre 8% e 11% ao ano”, compara o assessor financeiro. As taxas de administração dos consórcios variam de 15% a 20% ao ano. Há ainda custo com fundo de reserva, geralmente de cerca de 2%.  Pode haver contratação de seguro de vida, o de cobertura e o de seguro-desemprego. É preciso pesquisar os custos e colocar tudo na planilha. 

Consultora de vendas e graduada em ciências contábeis, Joaly Pereira Silva e Silva acredita que o consórcio é a “melhor maneira de fazer a compra programada do veículo, sem pagar juros altos”. “Comprei meu primeiro e o segundo carro. Além de não pagar tantos juros, tem a vantagem de, após uma contemplação, ficar com o valor de parcela bem menor”, explica. 

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